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Folha de S.Paulo

Bortolotto capta drama da “polifonia urbana”

24.4.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 24 de abril de 2005

TEATRO 
Dramaturgo tem três peças, “Fuck You, Baby”, “A Lua É Minha” e “Homens, Santos e Desertores”, em cartaz na cidade

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local

Três peças de Mário Bortolotto em cartaz na cidade. Talvez signifique pouco para quem já realizou mostras com 14, 26 textos e ainda prepara uma outra com 30, para maio, no Centro Cultural São Paulo, iniciativa do seu grupo Cemitério de Automóveis e de dezenas de atores convidados.
Os admiradores e aqueles que ainda não conhecem esse dramaturgo paranaense podem encontrá-lo em três regiões da cidade: “Fuck You, Baby”, no centro, “A Lua É Minha”, na zona leste, e “Homens, Santos e Desertores”, na zona oeste.
Nesta última, Bortolotto, 42, também atua sob direção de Fernanda D’Umbra. “Fuck You, Baby” é um projeto da Cia. Teatro X, e “A Lua É Minha” tem direção de Zecarlos Machado, do Tapa.
“Acho que já escrevi de 45 a 50 peças. Preciso parar para contar. E tenho várias idéias para outras. É só beber menos e ficar em casa de madrugada, escrevendo”, diz o dono do blog http://atirenodramaturgo.zip.net.
Folha – Você costuma dirigir seus textos. Gosta de ser encenado por outros?
Mário Bortolotto – Gosto, em princípio. Nem sempre fico satisfeito com as encenações. Muitas vezes acontece de o diretor não ter a menor afinidade com o universo dos meus textos e acabar fazendo besteira. Mas às vezes acontecem encenações maneiras e sintonizadas com meu pensamento.
Folha – Você vê relação entre as três peças em cartaz?
Bortolotto – Claro que sim. É o meu universo, a minha abordagem, a mesma maneira de mexer com o bisturi verborrágico em assuntos que me instigam há muito tempo. “Fuck You, Baby” é uma peça dos anos 80, em que eu abuso de um vocabulário pop, meio pós-moderno, meio cartum, para contar a história da garota que foge de casa e cai na vida.
Já “A Lua É Minha”, que é de 1994, é um texto no qual falo de impotência criativa. Qual escritor ou artista que não passou por isso? Eu uso a figura do artista plástico como personagem principal porque, na época, eu estava fissurado em artes plásticas.
“Homens, Santos e Desertores”, que foi escrita em 2002, é uma peça particularmente muito cara à minha dramaturgia por eu estar começando a investigar e mexer em feridas delicadas. Tem a ver com uma atitude de: “Foda-se. As coisas precisam ser ditas”. Eu não estou medindo conseqüências com a minha dramaturgia.
Folha – Em “Homens, Santos e Desertores”, é você quarentão conversando com você moleque?
Bortolotto – Não. Não é bem isso. Uma parte talvez. É sempre uma parte só. Em qualquer criação artística é assim. Uma parte é o autor, a outra é onde sua vista alcança, até onde consegue ouvir, apesar de toda a polifonia urbana.
Folha – Quase toda a sua dramaturgia está publicada. Isso é raro no Brasil, sobretudo com um autor contemporâneo.
Bortolotto – Antes, ligavam e eu tinha que ficar xerocando e mandando pelo correio. Hoje, a pessoa vem e compra os livros.

Três peças de Mário Bortolotto em cartaz na cidade. Talvez signifique pouco para quem já realizou mostras com 14, 26 textos e ainda prepara uma outra com 30, para maio, no Centro Cultural São Paulo, iniciativa do seu grupo Cemitério de Automóveis e de dezenas de atores convidados.

Os admiradores e aqueles que ainda não conhecem esse dramaturgo paranaense podem encontrá-lo em três regiões da cidade: “Fuck You, Baby”, no centro, “A Lua É Minha”, na zona leste, e “Homens, Santos e Desertores”, na zona oeste.Nesta última, Bortolotto, 42, também atua sob direção de Fernanda D’Umbra. “Fuck You, Baby” é um projeto da Cia. Teatro X, e “A Lua É Minha” tem direção de Zecarlos Machado, do Tapa.

“Acho que já escrevi de 45 a 50 peças. Preciso parar para contar. E tenho várias idéias para outras. É só beber menos e ficar em casa de madrugada, escrevendo”, diz o dono do blog http://atirenodramaturgo.zip.net. 

Folha – Você costuma dirigir seus textos. Gosta de ser encenado por outros?
Mário Bortolotto – Gosto, em princípio. Nem sempre fico satisfeito com as encenações. Muitas vezes acontece de o diretor não ter a menor afinidade com o universo dos meus textos e acabar fazendo besteira. Mas às vezes acontecem encenações maneiras e sintonizadas com meu pensamento.

Folha – Você vê relação entre as três peças em cartaz?

Bortolotto – Claro que sim. É o meu universo, a minha abordagem, a mesma maneira de mexer com o bisturi verborrágico em assuntos que me instigam há muito tempo. “Fuck You, Baby” é uma peça dos anos 80, em que eu abuso de um vocabulário pop, meio pós-moderno, meio cartum, para contar a história da garota que foge de casa e cai na vida.Já “A Lua É Minha”, que é de 1994, é um texto no qual falo de impotência criativa. Qual escritor ou artista que não passou por isso? Eu uso a figura do artista plástico como personagem principal porque, na época, eu estava fissurado em artes plásticas.”Homens, Santos e Desertores”, que foi escrita em 2002, é uma peça particularmente muito cara à minha dramaturgia por eu estar começando a investigar e mexer em feridas delicadas. Tem a ver com uma atitude de: “Foda-se. As coisas precisam ser ditas”. Eu não estou medindo conseqüências com a minha dramaturgia.

Folha –
Em “Homens, Santos e Desertores”, é você quarentão conversando com você moleque?

Bortolotto – Não. Não é bem isso. Uma parte talvez. É sempre uma parte só. Em qualquer criação artística é assim. Uma parte é o autor, a outra é onde sua vista alcança, até onde consegue ouvir, apesar de toda a polifonia urbana.

Folha – Quase toda a sua dramaturgia está publicada. Isso é raro no Brasil, sobretudo com um autor contemporâneo.

Bortolotto – Antes, ligavam e eu tinha que ficar xerocando e mandando pelo correio. Hoje, a pessoa vem e compra os livros.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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