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Folha de S.Paulo

Peça “Liberdade, Liberdade” volta ao palco aos 40 anos

25.4.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 25 de abril de 2005

TEATRO
Espetáculo histórico de Millôr Fernandes e Flávio Rangel é remontado por Cibele Forjaz e vai a universidades

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Em discurso de posse neste ano, o presidente George W. Bush, reeleito, usou e abusou do “poder da liberdade”. Referiu-se a ela 42 vezes (“freedom”, “liberty”).

Quarenta anos atrás, Millôr Fernandes, 81, e Flávio Rangel (1932-88) bradavam por “Liberdade, Liberdade” em contexto político bastante diverso.

Os autores abriram espaço para o teatro de protesto em plena ditadura militar, numa co-produção dos grupos Opinião e Arena que estreou num teatro improvisado do Rio de Janeiro, em 21 de abril de 1965.

Para rememorar o espírito daquela época e repensar o conceito de liberdade nos tempos atuais (o passado que reinterpreta o presente), uma remontagem da peça será levada neste semestre a 40 universidades da capital e da Grande São Paulo.

O projeto Teatro nas Universidades começa hoje com apresentação fechada da peça no auditório da Fundação Getúlio Vargas.

Cibele Forjaz dirige os atores Renato Borghi, Débora Duboc, Élcio Nogueira, Paulo Goulart Filho e o músico Celso Sim. Eles se desdobram nas 56 vozes de “Liberdade, Liberdade”, que combina política, poesia, humor e música a partir de trechos de obras clássicas. O roteiro passeia por julgamentos como o do filósofo grego Sócrates (470-399 a.C.), que preferiu a cicuta ao pedido de clemência, e o do poeta russo Joseph Brodsky (1940-1996), condenado a trabalho forçado pelo regime comunista.

Há ainda remissões a eventos históricos como a Revolução Francesa (1789) e a Guerra Civil Espanhola (1936-39). Mas o espetáculo não se quer uma aula, ao contrário. Millôr e Rangel não abriram mão do humor, e tampouco o fará a nova versão, que enxertou fatos e personagens contemporâneos. Impossível escapar de Bush, por exemplo.

“Há 40 anos, a peça fez comício em relação ao golpe militar, o país tinha um inimigo comum e o mundo estava dividido em dois [EUA e URSS]. A peça tem essa vocação para fazer o público refletir sobre as possibilidades de transformação, e é isso que a torna obra de arte, tanto ontem como hoje”, diz Forjaz, 38.

“É um espetáculo de contraposições entre os discursos pelas liberdades bélica e utópica”, diz Borghi, 68, estimulado a reencontrar o público universitário, maioria nas platéias dos anos 60 e 70.

Cada sessão será seguida de debate. O de hoje reúne o jornalista Gilberto Dimenstein, colunista da Folha, e um professor da instituição, Mario Aquino Alves. A mediação é do ator Tadeu di Pyetro.

Entre os nomes que já estão confirmados para participar dos próximos encontros, estão Lauro César Muniz, Augusto Boal, Aderbal Freire-Filho, Domingos Oliveira, Oswaldo Mendes, José Renato, Consuelo de Castro, Ulysses Cruz, Umberto Magnani e Antonio Abujamra.

Universidades e faculdades que estiverem interessadas em receber a montagem podem entrar em contato pelo tel. 3258-1110, ramal 7, ou então pelo e-mail teatronasuniversidades@pop.com.br

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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