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Folha de S.Paulo

Harém vira espaço de confissão de atrizes em espetáculo no N.Ex.T

1.6.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, quarta-feira, 01 de junho de 2005

TEATRO 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

Existe um grau zero de representação, e ele está na confissão. É para “lá” que caminham as três atrizes de “O Confessionário do Sultão”, a partir de hoje no Núcleo Experimental de Teatro.

A premissa é de Maurício Paroni de Castro, responsável por dramaturgia e supervisão-geral do espetáculo que lança o grupo Las Tres Telebanas, formado por Alessandra Calor, Helena Magon e Mariana Rubino. A direção é de Matheus Parizi Carvalho, assistente de Paroni de Castro no Atelier Teatral de Manufactura Suspeita (“Pornografia Barata”).

Num harém, três mulheres discorrem sobre os assuntos mais licenciosos possíveis, enquanto se arrumam à espera de um xeque, “um taciturno aspirante a lutador de luta livre mexicana”.

Quando o sujeito chega (interpretado por Rodrigo Martins), o harém vira a própria linha de limite entre os universos masculino e feminino. Ele, com seus sacos de pancada, cervejas, TV, máscara de lutador. Elas, com roupas, maquiagens e confissões. Revelam compulsivamente seus pensamentos e segredos ao público.

Segundo Paroni de Castro, 44, o texto foi construído a partir de uma técnica em que o ator é o suporte da dramaturgia, atuada no tal grau zero de representação (a confissão pública).

“As personagens falam diretamente ao público, mas não são interativas. Há mentiras e verdades nas narrativas, apesar de o espetáculo e o local, o bar do N.Ex.T., remeterem à ficção”, diz ele. O recurso vem da experiência como encenador na Itália, desde os anos 80, com o Centro di Ricerca per il Teatro e a Escola de Arte Dramática de Milão. Conviveu com artistas como o belga Thierry Salmon e a italiana Renata Molinari, que radicalizavam essa perspectiva “confessional” do intérprete.

O assistente de direção Diego Ruiz e a figurinista Marília Jardim completam a equipe de criação que promete embalar “O Confessionário do Sultão” no ambiente de cabaré do N.Ex.T., em meio a sonhos, mistérios, fé e desilusões. 



O Confessionário do Sultão
Onde:
 N.Ex.T. (r. Rego Freitas, 452, Vila Buarque, tel. 3106-9636) 
Quando: estréia hoje, às 22h; qua. e qui., às 22h; até 31/6 
Quanto: R$ 20 mais R$ 3 de cons. no bar
 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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