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Folha de S.Paulo

Lilia Cabral sublima humor em “Divã”

22.9.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2005

TEATRO 
Adaptação do livro de Martha Medeiros, montagem estréia no teatro da Faap

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

O analista de Lilia Cabral usa persianas. No espetáculo “Divã”, elas estão lá, à frente das portinholas do cenário de J.C. Serroni, por onde entram e saem as histórias e personagens de Mercedes, a divertida e inteligente quarentona que roubou a cena na temporada carioca deste ano e chega para a primavera paulistana a partir de hoje, no teatro Faap.

Casada, filhos, um belo dia Mercedes decide fazer análise. Ao compartilhar seus relatos, enreda o analista/leitor/espectador para além de sua intimidade (paixões, ciúme, insegurança, a vida sexual) e projeta figuras do cotidiano.

Há o primeiro namorado, a amiga desquitada, as esposas-clichês dos amigos do marido, a namorada patricinha do filho, os homens do “single bar” e o marido machão da amiga.

Mercedes é cria da gaúcha Martha Medeiros, autora de “Divã”, livro de 2002 (ed. Objetiva), no qual transita com reconhecida dificuldade da crônica, sua praia, para a ficção. “Talvez por isso tenha gerado tanta simpatia, converso como se fosse numa crônica”, diz Medeiros, 44, que começou há 20 anos com poesias em “Strip-Tease” (ed. Brasiliense). Tem 14 títulos, a maioria coletâneas de crônicas publicadas nos jornais “Zero Hora” e “O Globo”.

“A Martha escreve de uma forma dramática que constrói muitas imagens, nos remete a cenas”, diz Cabral, 47.

Quando leu “Divã” em 2003, a atriz já pensou em adaptá-lo. O fez a várias mãos, com Marta Góes, Marcelo Saback e o diretor Ernesto Piccolo. Inseriram situações e diálogos, sem prejuízo do conteúdo do livro, garante Medeiros, que assistiu ao espetáculo cinco vezes e avalia que humor e reflexão permanecem bem urdidos.

A montagem conquistou três indicações ao Prêmio Shell Rio de Janeiro no primeiro semestre: melhores atriz (Lilia Cabral), ator (Marcelo Valle) e diretor (Piccolo). A atriz Alexandra Richter completa o elenco, revezando com Valle os demais personagens “convocados” por Mercedes.

Depois do palco, “Divã” também deve chegar ao cinema. A previsão é para 2007, com maioria da equipe da montagem teatral. 



Divã
Quando:
 hoje, às 21h (para convidados); sex. e sáb., às 21h; dom. às 18h 
Onde: teatro Faap (r. Alagoas, 903, SP, tel. 0/xx/11/3662-7233) 
Quanto: R$ 60 e R$ 70 (sáb. e dom.)
 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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