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Folha de S.Paulo

Peça aborda inclusão social pela educação

5.5.2006  |  por Valmir Santos

São Paulo, sexta-feira, 05 de maio de 2006

TEATRO 
Terceiro texto de Antônio Ermírio de Moraes, “Acorda Brasil” se baseia em experiência do terceiro setor em Heliópolis 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local

Ao final de “Acorda Brasil”, nova peça do empresário e colunista da Folha Antônio Ermírio de Moraes, ouve-se um locutor: “Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade não é coincidência, já que ela foi inspirada na orquestra dos talentosos jovens que estudam na escola de música instalada no bairro de Heliópolis” -a maior favela de São Paulo, com 120 mil habitantes.

No seu terceiro texto para o teatro, Moraes, 77, volta a inscrever o nome do país no título e a tocar em problemas nacionais com direito a proposições.

Agora, o mote é a inclusão social por meio da educação. O espetáculo, que estréia hoje no teatro Shopping Frei Caneca, descreve as relações de um jovem violinista que dá aulas na periferia e enfrenta vários obstáculos, da resistência inicial dos aprendizes ao tiroteio próximo à sala de encontro.

“É um violino ou é uma metralhadora?”, pergunta-lhe a diretora da escola pública, dando o tom da violência naquele território coabitado pelo tráfico de drogas. Ela mesma já foi assaltada na porta da escola precariamente equipada.

“Acorda Brasil” quer mostrar a superação desse professor de violino e, sobretudo, a transformação daqueles adolescentes por meio da arte, da música.

“Decidi colocar esse assunto na linguagem teatral na esperança de que tais idéias penetrem de maneira profunda no público em geral e nas pessoas que podem colaborar com projetos semelhantes para a redenção da nossa juventude”, afirma Moraes, no material de divulgação.

Segundo a assessoria de imprensa do espetáculo, desta vez o empresário -que não se considera propriamente um dramaturgo- preferiu se esquivar de entrevistas. “Espero que o público se comova com a peça e, sobretudo, com o êxito alcançado pelo Instituto Baccarelli.”

Iniciativa do maestro Sílvio Baccarelli, a organização sem fins lucrativos atua desde 1996 em parceria com a iniciativa privada e o Ministério da Cultura. O instituto inspirou a peça por meio da criação e da manutenção de projetos como a Sinfônica Heliópolis, a Orquestra do Amanhã e o Coral da Gente.

Dezessete crianças e adolescentes da comunidade, envolvidos nesses projetos, também participam do espetáculo, que conjuga música e canto -a sinfônica comparece com 65 instrumentistas. Entre os artistas que contracenam com o elenco mirim, estão Petrônio Gontijo e Arlete Salles.

“Apesar do fundo realista da história, me permiti a liberdade poética em vários momentos”, diz o diretor José Possi Neto. Ele afirma que é a primeira vez que encena “um trabalho sobre exclusão social” e que foi “mobilizado” pela disponibilidade dos jovens atores e músicos de Heliópolis.

Em sua primeira peça, “Brasil S/A” (1996), Moraes tratou dos malefícios da carga de impostos na vida de um empresário. Fundo algo biográfico para quem encabeça o grupo Votorantim.
Já “S.O.S. Brasil” (1999), o segundo texto, expôs a crise da saúde pública a partir de um hospital minado financeira e administrativamente por um político e uma enfermeira corruptos. Moraes preside o hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo.



Acorda Brasil
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 20h. Até 30/7 
Onde: teatro Shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, Bela Vista, SP, tel. 0/xx/ 11/ 3472-2226
Quanto: R$ 50

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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