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Folha de S.Paulo

Espetáculo faz tributo a Giacometti

5.10.2006  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 05 de outubro de 2006

TEATRO 
Dirigido por Roberto Lage e Juca Rodrigues e escrito pela alemã Dea Loher, “Cachorro” homenageia o escultor suíço 

Peça promove interface com a literatura, tendo como referência Jean Genet, e as artes visuais, que aparecem em instalação cenográfica 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O escultor e pintor suíço Alberto Giacometti (1901-1966) dizia-se fracassado diante da impossibilidade de transpor para a arte a realidade que o cercava. Ela, a realidade, lhe escapava na mesma proporção em que era perseguida. Um tanto dessas solidão e miséria humanas, que grudam nos calcanhares feito o trabalho vicioso de Sísifo, estão retratadas no espetáculo teatral “Cachorro”. 

A dramaturga alemã Dea Loher (de “A Vida na Praça Roosevelt”) toma emprestado o título de uma obra de Giacometti, “Cachorro”, justamente uma das esculturas no apartamento da personagem Velha Puta, ao lado das criações “Mulher em Pé” e “Homem que Anda”. 

O ano é 1966, em Paris. O Ladrão Coxo (Edson D’Santana) encontra na rua a Velha Puta (Irene Stefania). Vai ao apartamento dela em busca de três obras do escultor que recentemente morreu na Suíça. São obras desconhecidas, deixadas com sua provável amante. 

“Poderia resumir a peça como uma história de amor entre excluídos, mas é mais que isso. O Giacometti também era coxo, por exemplo, o que permite a metáfora do artista como um ladrão de imagem”, diz Roberto Lage, 59, que co-dirige o espetáculo com Juca Rodrigues. 

Como o texto de Loher, a montagem promove interface do teatro com a literatura e as artes visuais. Estas ganham relevo na instalação cenográfica que ocupa a sala Subterrâneo do Instituto Cultural Capobianco, onde o espetáculo faz temporada a partir de amanhã. 

Concebida pelo Ateliê Estúdio de Arte La Tintota, surgido na Venezuela há cinco anos, a instalação abriga o espetáculo nas sessões noturnas e, de dia, pode ser visitada pelo público em geral, a partir de 10/10, quando se completam 40 anos da morte de Giacometti. 

Na literatura, a principal referência é o escritor francês Jean Genet (1910-86), cujo ensaio “O Ateliê de Giacometti” (vertido para o português pela artista plástica Célia Euvaldo) é considerado uma recriação literária da obra do escultor. 

“A beleza tem apenas uma origem: a ferida, singular, diferente para cada um, oculta ou visível, que o indivíduo preserva e para onde se retira quando quer deixar o mundo para uma solidão temporária, porém profunda”, escreve Genet. “A arte de Giacometti parece querer descobrir essa ferida secreta de todo ser e mesmo de todas as coisas, para que ela os ilumine.” 



Cachorro
Onde:
Instituto Cultural Capobianco – sala Subterrâneo (r. Álvaro de Carvalho, 97, tel. 0/xx/11/3237-1187) 
Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h. Até 1/12 
Quanto: R$ 20 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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