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Folha de S.Paulo

Prosa poética de Hilda Hilst ganha peça no CCBB

14.6.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

TEATRO
Beatriz Azevedo assina a peça “Matamoros [da Fantasia]”, adaptação do texto da poeta que começa temporada em SP 

Elenco tem Sabrina Greve como protagonista e Maria Alice Vergueiro como mãe; peça se baseia no livro “Tu Não Te Moves de Ti”  

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Ainda adolescente, “descabelada”, a poeta Beatriz Azevedo ganhou o livro “Tu Não Te Moves de Ti” das mãos da própria Hilda Hilst (1930-2004). “Ali estava “Matamoros, da Fantasia”. Este vertiginoso texto em prosa poética foi meu ponto de partida no universo literário de HH”, escreve ela no programa da sua adaptação teatral que pré-estréia hoje para convidados no Centro Cultural Banco do Brasil. A temporada começa amanhã. 

“Matamoros [da Fantasia]” é um espetáculo que reaproxima Beatriz do teatro. Nos anos 90, ela levou Oswald de Andrade, Maiakovski e outros para a cena, sempre em interseção com outras expressões artísticas, como agora: a música, as artes plásticas e o vídeo. 

“O teatro é lugar privilegiado para a palavra da Hilda. Ela é eloqüente, não é para ler em casa, aquela literatura intimista, não”, afirma Beatriz. Para protagonizar a trajetória de Matamoros, menina nascida numa aldeia longínqua, que cresce vigiada pela mãe por travar experiências sensoriais com a natureza (dialogando com o “corpo da água”, bebendo o vinho das frutas carnudas, embriagando-se com o vermelho dos morangos), a diretora usa o mesmo ímã de Hilst e traz de volta ao palco Sabrina Greve, atriz formada com Antunes Filho e há quatro anos dedicada ao cinema e à televisão. 

“A Matamoros tem um percurso a cumprir e se deixa levar pela fantasia, não discerne a realidade, parece criança”, diz Sabrina. “Começa a alimentar uma desconfiança com a mãe e dá vazão a pensamentos livres. 

Age e sofre muito por isso.” A personagem é movida pela curiosidade e atiça os meninos da aldeia. Ela contracena com a mãe Haiága (Maria Alice Vergueiro), com quem trava duelos verbais, ameaçando matá-la ou matar-se. Junto desse diálogo de gerações, Maria Alice se diz estimulada. “Como eu tenho filha e mãe, estou dando uma mergulhada nessa minha relação também. E começo a perceber que tem algum denominador comum, essa história de passar o bastão, por exemplo.” 



Matamoros [Da Fantasia] 
Quando: pré-estréia hoje (convidados), às 20h; qui. a sáb., às 19h30; dom., às 18h; até 5/8 
Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651) 
Quanto: R$ 15

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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