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Folha de S.Paulo

7º Festival de Rio Preto prioriza o teatro experimental

9.7.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2007

TEATRO 

Mostra no interior paulista começa nesta noite com 18 grupos nacionais e 8 estrangeiros, incluindo a companhia francesa 111 e o coletivo holandês Dakar
 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O conceito de impermanência, que está na natureza cíclica do universo, do pensamento filosófico, da prática espiritual e da criação em artes cênicas, para citar algumas veredas, ocupa o centro da arena no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (a cerca de 450 km de São Paulo). O evento começa hoje e dura 13 dias.

Sua sétima edição internacional (nasceu em 1969 em âmbito amador e depois universitário) prioriza os grupos de pesquisa, ou os laboratórios, como são conhecidos na Europa os núcleos voltados à experimentação cênica e dramatúrgica.

Maioria acostumada à impermanência do ponto de vista das condições de trabalho, 18 coletivos brasileiros de palco, rua e espaços não-convencionais cruzam com oito companhias estrangeiras estáveis graças às políticas públicas de seus países.

Segundo o co-diretor-geral do FIT Rio Preto, Jorge Vermelho, independentemente das origens, todas as atrações perseveram na investigação e nos riscos criativos.

Metade dos participantes internacionais vem da França, tradicional na subvenção à cultura. Entre as companhias, estão a Transe Express, que passou pelo paulistano vale do Anhangabaú com “Mobile Homme” e protagoniza a abertura desta noite, ao ar livre, na represa, e a cia. 111 & Phil Soltanoff, com “Plan B”, segunda parte de trilogia sobre a busca de uma escrita poética para a cena: malabarismo, acrobacia, música etc.

Um projeto da Holanda, “Braakland”, com a cia. Dakar, e outro da Argentina, “Audiotur Ficcional”, com a BiNeural-Monokultur, chamam a atenção pelas propostas. No primeiro, inspirado em conto do sul-africano J.M. Coetzee, o público é transportado de ônibus até local desconhecido, possivelmente um terreno no qual seja possível enxergar os artistas ao ermo, num horizonte próximo.

Já o projeto argentino faz uma intervenção urbana na qual o espectador deve redescobrir lugares da cidade por meio de narrativa em áudio, gravação que o guiará a outras realidades.

Espectros da tragédia também rondam o festival. Há duas variantes do mito de Medéia. A espanhola cia. Atalaya traz “Medea – La Extranjera” (2004), em que a protagonista de Eurípides, Sêneca e Heiner Müller é quadruplicada em atrizes conforme os elementos da natureza: terra, fogo, água e vento. O subtítulo refletiria a condição do sujeito contemporâneo que parte em busca do “bezerro de ouro” em terras estrangeiras e sofre barbaridades na civilização.

Soma-se a essa releitura a “Medeamaterial” (2001), de Müller, pelo pedagogo e encenador russo Anatoli Vassiliev. Ele encerrará o festival, no dia 21/7, com a exibição em vídeo do solo da francesa Valérie Dreville, seguida de conferência.

O FIT Rio Preto é uma realização da prefeitura e do Sesc SP. Algumas atrações estarão em São Paulo. O “Hamlet” do grupo Teatro del Contrajuego (Venezuela) faz sessões nos dias 14 e 15/7 no Sesc Anchieta (sáb., às 20h, e dom., às 18h30, R$ 20). Vassiliev fala no Sesc Consolação dia 17/7 (às 19h30, entrada franca). “Medea – La Extranjera” tem apresentações de 19 a 22/7 no teatro São Pedro (qui. a sáb., às 20h30, e dom., às 17h, R$ 10). 

 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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