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Folha de S.Paulo

Carandiru chega ao palco em montagem de Villela

7.7.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 07 de julho de 2007

TEATRO 
“Salmo 91” é adaptação do livro “Estação Carandiru”

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Chegou a vez do teatro dar sua versão para as experiências de Drauzio Varella como médico voluntário na Casa de Detenção de São Paulo, relatadas no livro “Estação Carandiru”. Depois do cinema e da televisão, Gabriel Villela dirige a adaptação do jornalista Dib Carneiro Neto, “Salmo 91”, que estréia hoje no Sesc Santana. 

Na peça, Varella, colunista da Folha, não aparece. Nem como narrador. A adaptação opta em dar voz a dez personagens reais com os quais o autor conviveu. A dramaturgia surge na forma de dez monólogos em tom confessional, com falas dirigidas à platéia, da boca de cena, sem que os presos se cruzem. 

A intercalação cabe ao único sobrevivente desse time, Dadá (interpretado por Pascoal da Conceição). No dia 2 de outubro de 1992, em que oficialmente 111 presos foram mortos pela polícia, Dadá desobedeceu ao pedido da mãe para que lesse o referido salmo. Só o fez depois do massacre: “Mil cairão à sua direita, e dez mil à sua esquerda, mas a ti nada acontecerá, nada te atingirá”. 

Encenador marcado pela estética barroca, herança do berço mineiro que o leva a preencher a cena com minúcias, Gabriel Villela, 48, diz deparar aqui com o desafio do realismo. “Tenho enorme dificuldade em lidar com a subtração”, diz. 

Pelo ensaio a que a Folha assistiu, o vazio é evidente na grande área do gol que demarca todo o palco, tal qual campo de futebol. Nas laterais, painéis evocam o inferno de Dante Alilghieri em “A Divina Comédia”. A tragédia do Carandiru teria sua origem numa final interna de campeonato que terminou em briga de facções. 

Villela diz conceber sua montagem com um dos princípios da tragédia grega: “A palavra é mais importante que a ação, como vemos por exemplo em “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo”, afirma. 

“Salmo 91” promove reencontro de Villela com o ator Rodolfo Vaz, do Galpão, 14 anos depois de “A Rua da Amargura”.



Salmo 91
Quando: estréia hoje, às 21h; sex. e sáb., às 21h; e dom., às 19h 
Onde: Sesc Santana – teatro (av. Luiz Dumont Villares, 579, tel. 6971-8700) 
Quanto: R$ 8 a R$ 20 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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