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Folha de S.Paulo

Guitarra em punho, Melamed fecha trilogia com “Homemúsica”

30.11.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

TEATRO 
Ator quer endereçar carta de “amor e repúdio” ao país na última parte da série que traz a SP 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Meia hora ao telefone com Michel Melamed, 30, dá a medida da urgência que imprime à verborragia. Ele fala sem parar do “desejo absoluto e perpétuo de fazer arte sem concessão”, de espalhar “verdades plurais” no livro ou no palco, de “produzir pensamento”, de “desestabilizar o olhar” do espectador e, mais recentemente, desestabilizar até “o ouvir” do público. 

“Homemúsica”, novo trabalho do poeta e ator, estreou no Rio em setembro. É a última parte da “Trilogia Brasileira” que ganhou pernas próprias com “Regurgitofagia” (2004), performance na qual ele recebe descargas elétricas -no que vê como libelo ao engajamento voluntário do público-, e “Dinheiro Grátis” (2006), em que promove a circulação literal, em espécie, na platéia. 

São Paulo vê a trilogia de hoje a domingo, no Sesc Santana, dentro da Mostra Sesc de Artes -inédita na cidade, “Homemúsica” fica mais uma semana. “Como apresentar um personagem que a cada movimento do corpo gera o som de um instrumento?”, questiona Melamed, criador e intérprete do jovem Helicóptero. A trajetória desse sujeito, seus impasses e superações, compõem uma carta de amor e repúdio ao Brasil, conforme roteiro e encenação assinados pelo artista. 

“A música surge como símbolo da criatividade, da multiplicidade das potências que nos fazem enfrentar as maratonas do dia-a-dia. E, por outro lado, fala de um Brasil onde não há cidadania e das impressionantes matizes dessa sociedade.” 

O protagonista também busca a fama. Sua trajetória inclui passagem por um programa de auditório, o “Show do Estupra”, migrado de “Regurgitofagia”. A proposta é de obra aberta, como nos trabalhos anteriores, em nome de um espectador ativo na “produção de sua subjetividade, de sua verdade”. 

Guitarra em punho, dessa vez o show-de-um-homem-só é acompanhado por uma banda, “não no sentido musical canônico”, tenta explicar. São incorporados recursos tecnológicos. “Um dos postulados da trilogia é trabalhar com diversas linguagens, o teatro, a performance, a stand up comedy, a poesia falada”, diz. 

“Eu quero me entender como poeta. É meu desafio”, diz Melamed, também apresentador do “Re[corte] Cultural”, da TVE. Diferentemente de “Regurgitofagia”, que deriva de livro homônimo, “Homemúsica” gera um romance a ser publicado em breve, além de um CD com as canções do espetáculo.



Trilogia Brasileira 
Quando: hoje, às 21h (“Regurgitofagia”); amanhã, às 21h (“Dinheiro Grátis”); dom., às 19h (“Homemúsica”). “Homemúsica” segue até 9/12; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h 
Onde: Sesc Santana (av. Luís Dumont Villares, 579, tel. 0/xx/11/6971-8700) 
Quanto: R$ 4 a R$ 16 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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