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Folha de S.Paulo

Peça retrata indivíduo em conflito com valores

16.11.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, sexta-feira, 16 de novembro de 2007

TEATRO 

Samir Yazbek evoca heterônimos de Pessoa ao narrar passagem à idade adulta
 

Direção abusa da repetição para jogar com o tempo das cenas; peça tem cenários e figurinos com elementos cubistas e simbolistas

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

 

O metateatro é recurso comum nas peças de Samir Yazbek, 40. A premiada “O Fingidor” (1999), por exemplo, encontrou terreno fértil ao lidar com Fernando Pessoa, o poeta dos heterônimos. 

No drama “Diálogo das Sombras”, o autor paulista pretende radicalizar o que entende como contradições dos papéis que o indivíduo representa diante do outro nas relações pessoais e sociais. 

A obra vem a público hoje, no Sesc Paulista, sob encenação de Maucir Campanholi. 

Pai, mãe, tio, namorado e amiga, todos dão “sermões” sobre os rumos de uma jovem estudante (interpretada por Rubia Reame), em crise no rito de passagem para a vida adulta, pressionada a trabalhar e corresponder às expectativas daqueles que a cercam. Yazbek fala em “reencenação da vida” a que todos os envolvidos na história são submetidos. 

Cabe ao tio (Hélio Cícero), um homem de negócios, capitanear um misterioso ritual em que as máscaras incitariam cada um a encontrar suas “pequenas verdades”, não raro em tom moralista. 

“Com essa peça, talvez pela primeira vez, consegui fazer uma ponte entre o individual e o social. Tento compreender como essa jovem foi formada, que valores determinaram o seu caráter; o que fizeram dela e o que ela está fazendo consigo mesma”, diz Yazbek. 

Num exercício que pretende ser polifônico, o autor rebate a crítica recorrente ao comportamento individualista na sociedade contemporânea. 

O diretor Campanholi diz jogar com os tempos das cenas, pela fragmentação e pela repetição de trechos. As opções funcionam como eco dos acontecimentos ou como memória. 

Recorre a projeções de imagens cubistas dos locais em que a ação transcorre, reforçando o espaço cenográfico que co-assina com Isabelle Bittencourt. São dela os figurinos com elementos realistas e simbolistas. Também atuam em “Diálogo das Sombras” Eduardo Semerjian (pai), Maristela Chelala (mãe), Duda Mattos (namorado) e Júlia Corrêa (amiga). 

Com essa montagem, o trio Yazbek, Cícero e Campanholi consolida a Companhia Teatral Arnesto nos Convidou, homenagem ao universo do compositor Adoniran Barbosa.



Diálogo das sombras
Onde: Sesc Paulista (av. Paulista, 119, tel. 3179-3700) 
Quando: estréia hoje, às 19h30; sex. a dom., às 19h30; até 16/12 
Quanto: de R$ 5,50 a R$ 20 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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