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Folha de S.Paulo

Peça aproxima Oeste de Shepard ao urbano

3.5.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 03 de maio de 2008

TEATRO 

Em “Loucos por Amor”, Francisco Medeiros tenta fugir dos estereótipos do caubói
Em cartaz no Coletivo Fábrica, montagem de texto de Sam Shepard tem no elenco Umberto Magnani, que completa 40 anos de palco

Em “Loucos por Amor”, Francisco Medeiros tenta fugir dos estereótipos do caubói

Em cartaz no Coletivo Fábrica, montagem de texto de Sam Shepard tem no elenco Umberto Magnani, que completa 40 anos de palco 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

O Oeste que conforma a base da dramaturgia do americano Sam Shepard, 64, surge de forma mais interiorizada que explícita na montagem de “Loucos por Amor” que Francisco Medeiros, 59, estreou ontem no Coletivo Fábrica, como diretor convidado do Grupo Já. 
 
A figura do caubói quarentão, machista, esmerado em pôr a espora na bota, em exibir o revólver, a habilidade com o laço e o trato com os cavalos -afetos freqüentemente inversos ao que destina à mulher pela qual é apaixonado- aparece sem essas convenções. Ele se aproxima mais do ser urbano. “Não dava para trazer o tipo caubói para cá. O country no Brasil é uma coisa maquiada, “fake”. Não teria sentido veicular essa imagem arquetípica”, diz Medeiros. Ainda assim, os personagens Eddie (interpretado por Charles Geraldi), caminhoneiro que transporta cavalos, e Velho (por Umberto Magnani), o ser espectral que pontua a história, não deixam de refletir a sociedade patriarcal, individualista e autoritária. 
 
Com tradução e adaptação de Alexandre Tenório, despontam os conflitos de Eddie e Mae (Rennata Airoldi), namorados que vão e vêm numa paixão de 15 anos. Em um quarto de hotel à beira de um deserto (mas poderia ser em um apartamento paulistano, sugere o diretor), a chegada de Martin (Paulo Almeida), aguardado por ela, precipita lembranças e revelações. 
 
No plano da fantasia, que dialoga o tempo todo com essa realidade do triângulo esboçado, a figura do Velho também constitui peça-chave no quebra-cabeça à disposição do espectador. “A atmosfera é de suspense hitchcockiano”, diz Medeiros. Com “Loucos por Amor”, Magnani completa 40 anos de palco. Ele estreou profissionalmente em “Esse Ovo É um Galo” (1968), de Lauro César Muniz, quando ainda estudava na Escola de Artes Dramáticas. 



Peça: Loucos por Amor 
Onde: teatro Coletivo Fábrica (r. da Consolação, 1.623, tel. 3255-5922) 
Quando: sex. e sáb., 21h30; dom., 20h 

Quanto: R$ 5 (promoção até 11/5) e R$ 20 (ao longo da temporada) 

 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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