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Folha de S.Paulo

“Desconhecidos” mostra autor em fase realista

7.5.2008  |  por Valmir Santos

São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

TEATRO 

Dionísio Neto recorre à metalinguagem em texto que esteve no Festival de Curitiba
Dramaturgo contracena com Simona Queiroz na montagem dirigida por Ivan Feijó, em cartaz a partir de hoje no Sesc Consolação

Dionísio Neto recorre à metalinguagem em texto que esteve no Festival de Curitiba

Dramaturgo contracena com Simona Queiroz na montagem dirigida por Ivan Feijó, em cartaz a partir de hoje no Sesc Consolação 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem local 

Há três anos, ao participar do ciclo “Leituras de Teatro”, na Folha, o autor Dionísio Neto anunciava “Desconhecidos” como o texto por meio do qual “se lavava” do passado e com o qual abriria caminhos para a segunda década como artista. 
 
“Começo a penetrar naquilo que sempre quis como artista e que antes, talvez por ser muito novo, apenas intuía”, diz Neto, 36, sobre sua peça mais realista. 
 
A montagem estréia hoje em São Paulo, no Sesc Consolação, após integrar a mais recente edição do Festival de Curitiba, em março. 
 
Atuante desde a metade da década passada, com textos como “Perpétua” e “Opus Profundum”, o maranhense Neto, que também atua em suas peças e está radicado em São Paulo desde os anos 80, recorre ao metateatro para contar a história com a Companhia Satélite. 
 
No prólogo, uma cena naturalista à la “Prêt-à-Porter”, a série coordenada por Antunes Filho no CPT. Flor de Lótus e Francisco Carlos formam o casal de atores flagrado no cotidiano do lar. O almoço por fazer, os queixumes, a cegueira passageira dele, a síndrome de pânico dela. E, sobretudo, as expectativas quanto ao espetáculo em que atuam à noite. 
 
Cerca de 12 minutos depois, vira o jogo. Os mesmos atores surgem na peça dentro da peça. “A partir daí, as cenas caminham para um realismo extremo e ao mesmo tempo onírico, de tintas surreais, em contraponto ao início”, diz o diretor Ivan Feijó, 37. 
Agora, os atores-personagens (sempre interpretados por Simona Queiroz e Neto) vivem, respectivamente, a aeromoça Catirina, que acaba de ser demitida, e o dono de um restaurante, Cristino dos Anjos Neto. Eles se conhecem por acaso, no banco de uma praça deserta. E deixam aflorar a intimidade entre um homossexual e uma mãe de família. 
 
Súbito, o roteiro corta para a ação violenta do serial killer que mata mulheres de uniforme e lhes devora o coração. 
 
“Estou aproximando ao máximo meus personagens do ultra-realismo na busca de uma identificação direta com o público, um trampolim para a catarse coletiva”, diz Neto. 
 
A sexualidade também é uma das chaves. “Na primeiro parte, o ator que desempenhará o papel do homossexual Cristino é profundamente homofóbico. 
 
Ele acaba por espelhar grande parcela da sociedade, e seu maior desafio será interpretar o gay sem cair em estereótipos, deixando-o humano, demasiadamente humano”, diz Neto sobre seus papéis.



Peça: Desconhecidos
Quando: estréia hoje; qua. a sex, às 21h; até 27/6 
Onde: Sesc Consolação – 3º andar (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 0/xx/11/3234-3000) 
Quanto: R$ 10 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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