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The rape of Lucrece, Royal Shakespeare Company

Reportagem

Cresce participação estrangeira em Curitiba

5.2.2014  |  por Maria Eugênia de Menezes

Foto de capa: Keith Pattison

O crescimento da participação internacional e a intenção de homenagear os 450 anos de nascimento de William Shakespeare devem marcar a programação do próximo Festival de Curitiba, que ocorre de 26 de março a 4 de abril.

Anunciada ontem, a grade desta 23.ª edição continua a seguir o conceito que norteia o evento desde sua criação: apresentar uma vitrine do que acontece no teatro brasileiro. Mas abre-se ao que tem tido impacto em outros países.

A seleção estrangeira será certamente um dos pontos altos em 2014. A vontade já estava expressa na última edição, mas se concretiza agora com cinco obras internacionais. “É uma tendência que acabou se impondo pela qualidade”, observa Celso Curi, que divide a curadoria com Tânia Brandão e Lucia Camargo. “Tem tanta coisa boa acontecendo lá fora que tínhamos que prestar atenção.” O festejado diretor argentino Daniel Veronese traz sua versão para Sonata de outono, de Ingmar Bergman. O trabalho chileno El hombre venido de ninguna parte, visto recentemente no festival Santiago a Mil é outra das boas apostas.

Com orçamento de R$ 6,5 milhões (em 2013, foram anunciados R$ 8 milhões), o festival traz 35 espetáculos na mostra oficial, com a valorização de algumas das vertentes já definidas pela curadoria em anos anteriores. Há montagens bem-sucedidas em suas praças de origem, caso de Cais ou a indiferença das embarcações, que fez sucesso em São Paulo. Existe ainda a intenção de trazer duas montagens de um mesmo texto, o que acontece com Ricardo III, nas versões dos diretores Marcelo Lazzaratto e Sergio Módena. Ou ainda dois trabalhos de um mesmo diretor: caso de Paulo de Moraes e Gabriel Villela que comparecem com duas obras cada um. Essas intersecções ou pontos de contato entre obras diferenciaram a edição anterior e voltam a ser valorizadas.

Uma das características que diferenciam o evento paranaense de seus congêneres é a importância dada às estreias nacionais. Desta vez, serão os sete títulos inéditos que entram em cartaz em Curitiba. Mas sem grandes surpresas ou criações aguardadas.

Concreto armado, com direção do carioca Diogo Liberano está entre as novidades. A obra trata de um grupo de alunos de arquitetura que morrem durante um atentado a um dos estádios da Copa do Mundo. Rózà, criação multimídia a partir das cartas escritas por Rosa Luxemburgo, também faz parte dessa ala de estreias.

Os maiores destaques, no entanto, prometem ficar por conta de Entredentes – que marca a volta de Ney Latorraca aos palcos com direção de Gerald Thomas. Conselho de classe, peça da Cia. dos Atores, atualmente em cartaz em São Paulo. Além do ensaio aberto de Nus, ferozes e antropófagos, espetáculo inacabado da Cia. Brasileira de Teatro em parceria com o coletivo francês Jakart/Mugiscué e o Centro Dramático de Limousin.

Peça de Albee tem Zezé Polessa e Daniel Dantas

A repetição de nomes e companhias que são recorrentes na mostra de Curitiba é outra das características que enfraquecem a safra de 2014. A despeito da qualidade, Gilberto Gawronski, Gabriel Villela, o Grupo Galpão e a Cia. Armazém de Teatro costumam retornar ao evento todos os anos. Não é diferente desta vez. Na 22.ª edição, a curadoria parece ter sido mais ousada, ao propor nomes de grupos e artistas neófitos no festival.

Outra guinada que recrudesce agora é a iniciativa de coprodução, anunciada e levada a cabo em 2013. O diretor do evento, Leandro Knopfholz, ressalva que o ímpeto de auxiliar as produções mudou de feição, mas permanece presente. “Não estamos levantando nenhum espetáculo do zero, mas não abandonamos essa experiência de coproduzir, que se manifesta agora especialmente nessas criações estrangeiras que estamos trazendo”, diz ele.

Shakespeare vai ser homenageado da mostra

O aniversário de 450 anos de Shakespeare não passará em branco no Festival de Curitiba. Uma das mais importantes atrações de 2014 é The rape of Lucrese. A criação da Royal Shakespeare Company, dirigida por Elizabeth Freestone, foi aclamada durante o Festival de Edimburgo em 2012 e vem pela primeira vez ao Brasil. Trata-se de uma versão musical, com a cantora Camille O’Sullivan, para a trágica fábula contada no poema shakespeariano. Outra criação esperada é uma montagem de Otelo, assinada pelo diretor chileno Jaime Lorca. Duas versões de Ricardo III também devem expor ao público maneiras completamente distintas de se apresentar uma mesma história.

.:. Publicado originalmente em O Estado de S.Paulo, Caderno 2, página C3, em 5 de fevereiro de 2014.

Crítica teatral, formada em jornalismo pela USP, com especialização em crítica literária e literatura comparada pela mesma universidade. É colaboradora de O Estado de S.Paulo, jornal onde trabalhou como repórter e editora, entre 2010 e 2016. Escreveu para Folha de S.Paulo entre 2007 e 2010. Foi curadora de programas, como o Circuito Cultural Paulista, e jurada dos prêmios Bravo! de Cultura, APCA e Governador do Estado. Autora da pesquisa “Breve Mapa do Teatro Brasileiro” e de capítulos de livros, como Jogo de corpo.

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