Menu

Reportagem

Curitiba acolhe criações sob recorte biográfico

19.3.2014  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Toni Benvenutti

Duas estrelas da música, um artista de grande esforço, uma política que marcou a história da Alemanha e um grupo de transformistas do Rio Grande do Sul e do Ceará tiveram suas vidas esmiuçadas em espetáculos que compõem a grade principal deste Festival de Teatro, que começa no próximo dia 26. A presença de personagens reais certamente é uma tendência nos palcos e ocupa um sétimo da Mostra Contemporânea do evento.

Musicais contando a vida de celebridades não são exatamente novidade, mas Jim promete inovar na forma ao colocar em cena apenas dois atores, Eriberto Leão e Renata Guida, acompanhados por três músicos que executam 11 canções da banda The Doors. Jim Morrison (1943-1971) é a obsessão do personagem de Leão, um rapaz perturbado que pautou seus ideais pelos do astro e agora está desiludido, prestes a tirar a própria vida. Em meio ao conflito, que envolve um encontro com a garota vivida por Renata, o ator canta as músicas que, conforme conta, o levaram a se interessar pela atuação, aos 18 anos.

Já a peça de dança-teatro Paixão e fúria: Callas, o mito, que estreia nacionalmente em Curitiba, inova ao contar a história da diva da ópera (1923-1977) por meio de coreografias. Na trilha sonora, sucessos conhecidos em sua voz, como Casta diva, da ópera Norma, e árias de Madame Butterfly e La traviatta.

O espetáculo, encenado por José Possi Neto, não personifica Callas em uma atriz, mas espalha o espírito de sua arte entre 20 bailarinos da paulistana Studio3 Cia de Dança. Uma das características da artista: determinação, ainda mais tratando-se de sua imagem. “Ela era uma pessoa grande, mas quando viu Audrey Hepburn, decidiu que queria ser como ela. E emagreceu mesmo, acabando até mesmo como ícone da moda”, contou à Gazeta do Povo o coreógrafo Anselmo Zolla.

Saindo das coxias e entrando nas trincheiras da militância pacifista da Primeira Guerra Mundial, a filósofa Rosa Luxemburgo foi a escolha da atriz Martha Kiss Perrone para abordar uma personagem real. Ela faz isso de forma intimista, ao lado de outras duas atrizes, com quem divide a interpretação de cartas escritas pela fundadora do que se tornaria o Partido Comunista Alemão, em Rózà. O vídeo, o canto e a música completam os elementos do cenário-instalação.

Nando Bolognesi supera limites em cena

A categoria de não celebridades entre as personagens biográficas do festival leva ao palco histórias de pessoas vivendo no limite. Em BR-Trans, a tensão do universo transexual, em que o ator Silvero Pereira dá voz a relatos colhidos por ele em casas noturnas e ruas de Porto Alegre e Fortaleza, é misturada a fatos de sua própria vida.

Esse é o terceiro trabalho dele com uma arte socialmente engajada, e agora é o que deseja fazer para sempre, conforme contou à reportagem: “Aprendi que o teatro pode ser um instrumento, e tenho ouvido de pessoas do público que, depois de assistir, começam a pensar nessas questões”.

Por fim, Se fosse fácil, não teria graça é o único espetáculo dessa série totalmente baseado na vida do ator em cena. Nando Bolognesi, que participou dos Doutores da Alegria e sofre de esclerose múltipla há 25 anos, ouviu de amigos a sugestão de criar seu próprio show, em que o fato de ficar sentado a maior parte do tempo seria autojustificado. “Os personagens que eu podia fazer no teatro foram ficando mais restritos. Comecei a peça como uma necessidade devido à limitação e ela acabou sendo motivo de reflexão”, disse à Gazeta do Povo. No monólogo, ele conta sua história em tom de humor – numa comédia realista, como exigem temas saídos da vida.

.:. Publicado originalmente na Gazeta do Povo, Caderno G, p. 5, em 16/3/2014.

Serviço
:

23.º Festival de Teatro de Curitiba

De 26 de março a 13 de abril. Mostra Oficial: R$ 60 e R$ 30 (meia-entrada). Mostra Paralela/Fringe: de entrada franca até R$ 60. Mais informações no site do festival, aqui.

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

Relacionados

‘De mãos dadas com minha irmã’, direção de Aysha Nascimento e direção artística e dramaturgia de Lucelia Sergio [em cena, Lucelia Sergio ao lado de dançarinas Jazu Weda e Brenda Regio]