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Crítica

Peça de rua perde força entre quatro paredes

27.3.2014  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Divulgação/Festival de Curitiba

O Festival de Teatro de Curitiba escolheu uma peça de rua para fazer sua abertura na noite da última terça-feira. Mas a opção por colocar a chilena El hombre venido de ninguna parte entre as quatro paredes do Expo Renault Barigui trouxe perdas à apresentação. A última sessão programada para hoje à noite, na Praça Santos Andrade, na região central, deverá ser mais autêntica em relação à proposta do grupo La Reyneta, um dos principais do Chile e interessado em investigar o teatro “callejero”, de rua.

É inegável que o uso de maquinário e a montagem de cenários-fachada, tudo manipulado por integrantes do grupo, surpreende o olhar do espectador – é uma peça de surpresas, com direito a explosões, jorro de sangue e desaparecimento de uma atriz por um buraco no chão.

Para coordenar isso, os sete integrantes alternam com muita habilidade e timing seus personagens com a função de contrarregra. Mas, mesmo com o uso de papel picado, gelo seco e pó amarelo, o espetáculo fica um ponto aquém do encantamento.

Uma grande mão de dedos articulados aponta o caminho/destino do protagonista, um homem que abre o espetáculo manifestando sua confusão de identidade. Com a ajuda de outra traquitana, agora uma máquina do tempo, ele revisita momentos cruciais de sua vida – que não foi muito fácil.

A transformação do objeto em barco a vela e carro proporciona belas imagens. A confusa narrativa de idas e vindas dentro dela é que enfraquece a experiência do público com o show.

Cena do espetáculo de rua chileno em espaço fechado

Um destaque positivo é a cena entre o protagonista e sua amada, num momento que se passa sobre uma plataforma gramada. Porém, a dor da perda da noiva, bem caracterizada quando o ator é agarrado pela mão gigante, aparentemente endurece esse viajante, que, no fim da vida, afasta a todos de perto de si.

Suas passagens por um hospital, uma cadeia e a abertura de um restaurante permanecem um tanto nebulosas devido à opção pelo teatro mudo, que, na situação apresentada na festa de abertura do festival, dificulta o mergulho do espectador na história.

Noite de abertura

Apesar do clima tenso que se estabeleceu ainda no início da festa de lançamento do festival, com a queda de uma máscara de gesso sobre um convidado – leia mais aqui -, muita gente permaneceu até tarde no coquetel e sequer soube do ocorrido. O cardápio foi “alinhado” com a procedência do La Reyneta: iguarias chilenas que incluíram caldo mariscada, batata brava, petit four de tilápia e empanadas.

.:. Publicado originalmente na Gazeta do Povo, Caderno G, p. 4, em 27/3/2014.

Serviço:
El hombre venido de ninguna parte
Praça Santos Andrade. Hoje às 19h30. Entrada franca.

23º Festival de Teatro de Curitiba
Quando: Até 6/4.
Quanto? R$ 60. Mostra paralela/Fringe: de entrada franca a R$ 60. Mais informações, aqui.

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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