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Reportagem

Satyros investiga ‘homem ciborgue’ em 7 peças

8.3.2014  |  por Maria Eugênia de Menezes

Foto de capa: André Stefano

O homem que vive plugado, conectado, na estrita dependência de equipamentos e máquinas talvez não seja mais humano. Talvez seja um novo humano. Ainda carente de uma ontologia que dê conta de sua complexidade. Com o projeto E se fez a humanidade ciborgue em 7 dias, o grupo Satyros esmiúça a questão em sete diferentes espetáculos.

Hoje, eles serão apresentados todos juntos. Uma maratona que terá duração de 9 horas e começa às 16h. Já nos outros dias, as peças poderão ser vistas separadamente. Uma em cada dia da semana. O programa marca os 25 anos de trajetória do grupo – um dos mais importantes da cidade e responsáveis pela revitalização da Praça Roosevelt.

Com E se fez a humanidade ciborgue em 7 dias, a companhia aprofunda questões que já apareciam em seus espetáculos anteriores. Em Hipóteses sobre o amor e a verdade, os espectadores eram instados a deixar seus celulares ligados durante a encenação. As manifestações tecnológicas foram tomadas como uma amarra em torno da qual se desenvolviam várias histórias.

Dyl Pires numa das peças do septeto ciborgue

Para criar as sete montagens que compõem o projeto atual, o grupo se debruçou sobre diferentes aspectos da relação do homem com o universo tecnológico. “Nossos corpos foram modificados por próteses, manipulações genéticas, aparatos tecnológicos. Não somos mais aqueles que éramos até o século 19. Somos humanos expandidos”, argumenta Rodolfo García Vázquez, que assina a coordenação do ciclo. “Os ciborgues não são coisa de ficção científica. Eles já existem e estão por aí.”

Se vistos em conjuntos, os espetáculos parecem oferecer uma espécie de “Bíblia” para esse nova espécie, com mandamentos que deem conta dos dilemas do “homem ciborgue”: há desde o Não amarás – sobre as relações afetivas que já surgem mediadas por programas de computador e telefonia – até o Não vencerás, debruçado sobre as atuais configurações de poder: nos voláteis fluxos financeiros, nos ataques dos hackers ou nos atentados terroristas. Uma sociedade que se vê regida por figuras sem rosto, forças invisíveis e incontroláveis.

Na tentativa de desbravar esse mundo inexplorado, o grupo não esteve sozinho. Para balizar as produções, contou com textos e reflexões de especialistas em diversas áreas dos conhecimento que serviram de “provocação”. Entrevistas também ajudaram a equipe a desenvolver a obra. Os black blocs detalharam seu ideário. Viciados em sexo pela internet também trouxeram seus depoimentos.

Fernanda D’Umbra em ‘Não amarás’

“Mas essa não é uma dramaturgia só do texto”, ressalva García Vázquez. O corpo dos intérpretes entrou nessa investigação. Também serviram de esteio suportes eletrônicos, além de robôs criados especialmente para a montagem.

Em Não saberás, um experimento científico mostra como um ator é capaz de gerar energia elétrica. Em Não fornicarás, as incontáveis possibilidades do sexo são exploradas com bonecas de plástico, próteses e sites pornográficos. Haverá também, prometem os criadores, uma cena de sexo explícito ao vivo. “Mas não sexo da maneira como conhecemos”, avisa o ator Ivam Cabral.

.:. Publicado originalmente em O Estado de S. Paulo, Caderno 2, p. C8, em 8/3/2014

Robson Catalunha em ‘Não fornicarás’

Serviço:
E se fez a humanidade ciborgue em 7 dias

Onde: Espaço dos Satyros Um (Praça Roosevelt, 214)
Quando: Sessão de estreia hoje com a íntegra do projeto, a partir das 16h. A partir de amanhã, todos os dias da semana às 19h: domingo (Não amarás), segunda (Não permanecerás), terça (Não morrerás), quarta (Não saberás), quinta (Não vencerás), sexta (Não salvarás) e sábado (Não fornicarás). Até 28/9.
Quanto: Gratuito até 8/4. A partir dessa data, R$ 20

Ficha técnica:
Coordenação geral: Rodolfo García Vázquez
Artistas criadores: Cléo de Paris, Esther Cardoso, Dyl Pires, Fabio Penna, Fábio Ock, Gustavo Ferreira, Henrique Mello, Ivam Cabral, José Sampaio, Julia Bobrow, Katia Calsavara, Luiza Gottschalk, Samira Lochter, Robson Catalunha, Phedra de Cordoba, Fernanda D’Umbra, Tiago Leal, Marcelo Maffei e Vini Lopes
Produtora executiva: Daniela Machado
Técnicos: Carina Moutinho, Flávio Duarte e Vinicius Alves
Dramaturgismo: Nina Nóbile
Diretores assistentes: Dyl Pires, Fábio Ock, Henrique Mello, Ivam Cabral, José Sampaio, Pablo Benitez Tiscornia, Robson Catalunha e Tiago Leal
Artistas convidados: Bruno Gael, Débora Tieppo, Dione Leal, Giovanna Romanelli, Guilherme Araújo, Marcelo Thomaz, Marya Ribeiro, Pablo Benitez Tiscornia, Patricia Luna, Suzana Muniz e Tais Luna
Administração do espaço e produção executiva: Carina Moutinho
Consultoria de sonorização: Raul Teixeira
Coordenação do projeto: Daniela Machado
Coordenação financeira: Vinicius Alves
Coordenação de trilha sonora: Fábio Ock
Cenografia e adereços: Luiza Gottschalk e Marcelo Maffei
Robôs: Pablo Benitez Tiscornia
Figurinos: Telumi Hellen
Assistente de figurinos: Cláu Marmo
Provocadores: Contardo Calligaris, Drauzio Varella, Marcos Piani, Marici Salomão, Pedro Burgos, Rosana Hermann e Xico Sá
Iluminação: Flávio Duarte
Fotos: André Stéfano
Vídeos: Vini Lopes e Bruno Gael
Programação visual: Henrique Mello
Operação de luz: Flávio Duarte
Operação de som: Evando Carvalho
Operação de vídeo: Guilherme Araújo, Marcelo Maffei e Carina Moutinho
Assessoria de imprensa: Robson Catalunha

Crítica teatral, formada em jornalismo pela USP, com especialização em crítica literária e literatura comparada pela mesma universidade. É colaboradora de O Estado de S.Paulo, jornal onde trabalhou como repórter e editora, entre 2010 e 2016. Escreveu para Folha de S.Paulo entre 2007 e 2010. Foi curadora de programas, como o Circuito Cultural Paulista, e jurada dos prêmios Bravo! de Cultura, APCA e Governador do Estado. Autora da pesquisa “Breve Mapa do Teatro Brasileiro” e de capítulos de livros, como Jogo de corpo.

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