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Reportagem

Aquele momento definidor de rumos

15.5.2014  |  por Fábio Prikladnicki

Foto de capa: Carlos Hauck

Em meio a tantas companhias que acenam com o discurso da busca por uma estética própria, é raro que um grupo como o Luna Lunera admita que cada espetáculo tem uma linguagem diferente. Criado há 13 anos, o coletivo mineiro apresenta quatro de suas seis peças no 9º Festival Palco Giratório Sesc/POA a partir desta quarta-feira (14/5), com Nesta data querida. Na quinta, será a vez de Aqueles dois. Depois, vêm Prazer (sábado e domingo) e Cortiços (20/5). Todas as sessões serão às 19h no Teatro Sesc Centro.

“Uma característica do Luna é que não temos uma estética definida. Cada espetáculo é o resultado de um processo. É sempre um colocar-se em caminho do desconhecido”, afirma o ator e diretor Odilon Esteves.

O público gaúcho já teve oportunidades para conferir os trabalhos da prestigiada companhia. Nesta data querida (baseado em notícias de jornais) e Cortiços (inspirado no romance O cortiço, de Aluísio Azevedo) foram apresentados em Porto Alegre em 2011, no Festival do Teatro Brasileiro – Cena Mineira. Aqueles dois (adaptação do conto de Caio Fernando Abreu) esteve na programação do Festival Palco Giratório em 2010.

‘Cortiços’, inspirado em romance de Aluísio Azevedo

A novidade fica por conta de Prazer, elogiado espetáculo de 2012 até agora inédito na capital. Partindo de um fragmento de Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, de Clarice Lispector, a peça mostra um reencontro de quatro amigos. O texto teve orientação dramatúrgica de Jô Bilac, um dos autores de teatro mais festejados do país. O trabalho contou, ainda, com colaborações da atriz Roberta Carrieri (do Odin Teatret, de Eugenio Barba), do bailarino e coreógrafo Mário Nascimento e do videoartista Éder Santos. A direção é compartilhada entre os atores, sistema que já havia sido empregado em Aqueles dois. Nos espetáculos anteriores, o grupo contou com diretores convidados.

Prazer coincide com o fato de os integrantes do grupo estarem na casa dos 30 a 40 anos. Além disso, o início do projeto foi nos 10 anos do grupo, um momento de tentar entender o caminho percorrido e definir os rumos”, explica Esteves.

A peça foi a primeira do Luna Lunera a estrear em São Paulo. Esta experiência é simbólica da atual cena mineira, para a qual a questão local não se impõe mais como um fator limitador, como se poderia esperar de uma região fora do centro. Esteves observa:

“Há uma geração surgida nos últimos 10 ou 20 anos que teve uma influência sobretudo ética do Grupo Galpão, de colaboração entre os artistas. Um entendimento de que somos uma grande rede trabalhando em prol da cultura de uma cidade. Também foram duas décadas de muito investimento do município e do estado nas artes cênicas.”

.:. Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, p. 3, em 14/5/2014.

Serviço:
Aqueles dois
Onde: Teatro do Sesc (Avenida Alberto Bins, 655, Centro, tel. 51 3289-2070).
Quando: Quinta (15/5), às 19h.
Quanto: R$ 5 a R$ 20.

Prazer
Onde: Teatro do Sesc (Avenida Alberto Bins, 655, Centro, tel. 51 3289-2070).
Quando: Sábado e domingo (17 e 18/5), às 19h.
Quanto: R$ 5 a R$ 20.

Nesta data querida
Apresentada na quarta (14/5)

:. A programação completa do 9º Festival Palco Giratório Sesc/Poa, aqui.

Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.

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