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Crítica

Claudete Pereira é trunfo do ‘Canto 1’ da ‘Ilíada’

16.5.2014  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Gilson Camargo

O intento obstinado do diretor e compositor Octavio Camargo de encenar toda a Ilíada em dois anos tem como mérito haver iniciado a empreitada com uma grande atriz. Claudete Pereira Jorge faz maravilhas no monólogo criado para o Canto 1, que reúne uma dezena de personagens, num texto não exatamente acessível. A estreia deu-se em 2006, mas, na semana passada, ela voltou em quatro apresentações que marcaram a retomada do projeto. Ele agora deve ir adiante com a montagem dos 24 trechos da obra de Homero, mas não em ordem: o próximo será o Canto 16, com o ator Richard Rebelo, em junho – data a definir. O conjunto deve ser apresentado durante a Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, e, simultaneamente, na Grécia.

Calejada no trabalho, indicado na categoria de melhor atriz do Troféu Gralha Azul em 2011, Claudete enfrentou bravamente a rinite provocada pelo pouco uso da Sala Londrina, no Memorial de Curitiba. As modulações de voz e fisionomia são incrivelmente perceptíveis, facilitando o trabalho do espectador para se situar. Outra ajuda vem da trabalhosa iluminação de Beto Bruel, que, ao longo de mais de cem mudanças de foco, auxilia na caracterização de cada personagem — esforço recompensado com o Troféu Gralha Azul em 2011.

Pausa para a fábula: Canto 1 começa com o sacerdote de Apolo, Crises, tentando resgatar a filha, Criseida, do cativeiro grego. Repelido por Agamenon, Crises invoca a peste como castigo, que recai sobre os bravos heróis comandados por Aquiles. Este intenta vingar-se de Agamenon, mas é aconselhado pela deusa Minerva a se controlar. Agamenon devolve então Criseida, mas toma em troca a serva de Aquiles, Briseida. Novamente Aquiles se lamenta com uma deusa, sua mãe Tétis, que o consola e promete vingança. Tétis procura Júpiter (Zeus) e os dois decidem pela vitória dos troianos na guerra. A mulher de Júpiter, Juno, não gosta nada dessa entrevista e tira satisfações do marido, mas é repelida (cenas do próximo capítulo…).

Nessa intrincada trama, os protagonistas Agamenon e Aquiles são representados com luzes diagonais opostas, projetando a sombra da atriz em paredes alternadas. Júpiter ganha luzes laterais cruzadas e as mãos projetam sombra sobre o rosto, enquanto Minerva fala docemente sob luz igualmente suave. As soluções encontradas são brilhantes, mas não eliminam o estranhamento trazido pela antiguidade.

Publicado originalmente na Gazeta do Povo, Caderno G, p. 3, em 13/5/2014.

Ficha técnica:
Traducão: Manoel Odorico Mendes
Direção: Octavio Camargo
Com: Claudete Pereira Jorge
Iluminação: Beto Bruel
Realização: Cia. Ilíadahomero de Teatro

.:. O blog do projeto Ilíadahomero – Grécia/2016, aqui.

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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