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Reportagem

Centenário de Lupicínio inspira musical

1.6.2014  |  por Michele Rolim

Foto de capa: Daniel Scherer

Vida e obra de compositores são temas inspiradores para a criação de musicais. Tim Maia, Cazuza, Elis Regina e Cássia Eller são alguns dos nomes cujas trajetórias passaram ou estão no palco. No ano do centenário de nascimento de Lupicínio Rodrigues (1914-1974), chegou a vez de o compositor gaúcho ganhar uma montagem na Capital. A peça Lupi, o musical – Uma vida em estado de paixão, com direção e texto de Artur José Pinto, estreia neste sábado (31) no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.

“Ele foi um dos responsáveis por colocar Porto Alegre no cenário nacional do samba”, comenta José Pinto. Segundo o diretor, a montagem é uma celebração a um personagem que vai além do mestre da dor de cotovelo, como Lupicínio era conhecido. “Ele não era um homem cheio de dores, e sim um homem que cantava as dores”, pontua o autor sobre quem teve, de um total de 600 composições, ao menos 150 gravadas, por nomes de Caetano Veloso a Jamelão.

O espetáculo não obedece a uma ordem cronológica; a intenção é mostrar “como ele pensava e agia, mas do que como foi a vida dele”, explica o diretor sobre o compositor que vivia se apaixonando. A lembrança mais antiga de Artur sobre o músico está no palco. Aos 10 anos, o diretor e seu pai estavam caminhando pela cidade quando se depararam com Lupicínio. “Meu pai disse algo que ficou marcado: esse aqui é um grande artista, temos muito orgulho. Ele leva, todas as noites, uma rosa para mulher dele”, relembra ele, que coloca em cena o cantor entregando uma flor para a esposa, Cerenita Quevedo, tentando se desculpar por ter chegado muito tarde (após as 4h).

A peça é conduzida por um Lupi adulto, interpretado por Juliano Barreto [foto no alto], ambientado em uma estação de TV, na qual espera por uma entrevista enquanto relembra fatos. Sobem ao palco dez atores, três deles interpretando Lupi em diferentes fases. Além de Barreto, Gabriel Pinto faz o músico em sua juventude e Pamela Amaro o interpreta na infância, além de sete músicos para executar as canções.

Barreto, além de viver o poeta aos 59 anos, também é o criador do projeto. “Achei bem propício que fosse um musical, afinal as canções de Lupi são extremamente teatrais”, comenta Barreto, conhecido na cidade como cantor e produtor musical.

O texto foi construído a partir de pesquisa com o filho do compositor, Lupinho, bem como materiais do escritor Marcello Campos, estudioso de Lupicínio, que publicou nesta semana o livro Jonhson: o boxeur-cantor, sobre o melhor amigo de Lupi – figura que é citada no musical, mas não aparece no palco. “Tínhamos também outros personagens negros que não estão na peça pela falta de artistas disponíveis para o espetáculo”, desabafa Barreto.

‘Lupi, o musical – Uma vida em estado de paixão’

O musical revela um Lupicínio em situações conhecidas e inéditas. Desde o seu nascimento em Ilhota, vila pobre do bairro Cidade Baixa, passando pela fase de soldado em Santa Maria, o seu primeiro amor, até uma briga com Alcides Gonçalves, parceiro de tantas obras. Mostra ele como um boêmio de família, que celebrou 30 anos de casamento. E também um homem que, nos fins de semana, era caseiro e adorava receber seus familiares na chácara da Cavalhada.

Com direção musical e arranjos de Mathias Pinto, foram selecionadas 21 músicas para o repertório, como as renomadas Felicidade, Nervos de aço e Se acaso você chegasse, mas também composições menos conhecidas de sua produção, como Zé Ponte e Cigano. “Lupicínio está na vida dos porto-alegrenses. A primeira canção que aprendi a cantar foi Felicidade, mesmo quem não gosta tanto de música sabe que ele é o compositor do hino do Grêmio, por exemplo. O musical faz entendermos a vida na nossa cidade”, pontua Barreto. A ideia é que o espetáculo siga por um longo tempo na capital para perpetuar a memória de Lupi.

.:. Publicado originalmente no Jornal do Comercio, caderno Panorama, p. 1, em 29/5/2014.

.:. Leia sobre a montagem de outro musical paulista que também celebra o legado de Lupicínio Rodrigues, aqui.

Serviço:
Onde: Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n, Centro, Porto Alegre, tel. 51 3227-5100).
Quando: Sábado, às 21h, e domingo, às 18h. Até 1º/6.
Ingressos entre R$ 20,00 e R$ 60,00, à venda na bilheteria.

Ficha técnica:
Dramaturgia e direção cênica: Artur José Pinto
Direção musical e arranjos: Mathias Pinto
Com: Juliano Barreto, Nadya Mendes, Nani Medeiros, Pâmela Amaro, Cíntia Ferrer, Gabriel Pinto, Lucas Krug, Mario de Ballentti, César Pereira e Raul Voges
Coreogra­fia e cenografi­a: Raul Voges
Figurinos: Fabrízio Rodrigues
Músicos: Mathias Pinto (violões), Guilherme Sanches (percussão), Lucian Korlow (flauta), Samuca do Acordeon (acordeon), André (trombone), Pâmela Amaro (pandeiro) e Luis Barcelos (bandolim e arranjos)
Fotografi­a: Daniel Scherer
Projeto grá­fico: Rafael Franskowiak
Web design: João Pedro
Assessoria de imprensa: Bruna Paulin – Assessoria de Flor em Flor
Produção executiva: Ana Helena Rilho e Renata Becker
Direção de produção: Nadya Mendes
Promoção: Ckooqo Entertainment

Jornalista e mestra pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve pesquisa em torno do tema curadoria em festivais de artes cênicas. É a repórter responsável pelo setor de artes cênicas do Jornal do Comércio, em Porto Alegre (desde 2010). Participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da Prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival internacional Porto Alegre Em Cena. É crítica e coeditora do site nacional Agora Crítica Teatral e membro da Associação Internacional de Críticos de Teatro, AICT-IACT (www.aict-iatc.org), filiada à Unesco). Por seu trabalho profissional e sua atuação jornalística, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Dança (2015), categoria mídia, da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Porto Alegre (2014), e Prêmio Ari de Jornalismo, categoria reportagem cultural, da Associação Rio Grandense de Imprensa (2010, 2011, 2014).

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