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Reportagem

Pagu Leal fala de amor em ‘monólogo filosófico’

3.3.2015  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Antonio Wolff/LuxLab Studio

Considerada uma das melhores atrizes do país, Rosana Stavis assistiu às provas da nova peça de Pagu Leal e sentenciou: “Pode levar ao teatro. Não tem ninguém fazendo isso que você fez”.

Stand up and down #tentativa4, em cartaz até o final de março em Curitiba, simula o gênero que consta no título e até tem trechos de pura piada, mas é na verdade um “monólogo filosófico”, na definição de Pagu. Num pequeno palco irregular, ela se senta e levanta de um pequeno banco inúmeras vezes, na cadência do generoso relato que faz sobre a sensação de estar envelhecendo.

O projeto foi iniciado há dois anos, quando Pagu contava 38 primaveras. Na época, resolveu abrir a caixa de pandora, aqueles embrulhos de cartas e textos antigos que exigem muita coragem para reler. Pois ela releu e encontrou não só bons materiais de sua pré-história como dramaturga mas também diários em que, estranhamente, não se reconhecia.

“Eu lia e pensava ‘mas quando eu escrevi isso?’”, diz.

Mesmo assim, foram coisas que ela incluiu na peça que revisita sua trajetória como escritora, atriz e diretora.

Conforme explica no palco, Pagu sentia falta de ritos de passagem e escolheu a mudança dos “inta” para os “enta” como seu momento diva. Jessica Lange e Vivien Leigh, Robert Altman, Almodóvar e Woody Allen sobem ao palco figuradamente para lhe fazer companhia.

Pagu também resgata os interesses em filosofia e literatura para homenagear os livros e ideias que a salvaram nessas quatro décadas, na alegria e na tristeza. Roland Barthes contribui com Fragmentos de um discurso amoroso – livro cabeça entre os amigos de Pagu nos anos 1990; O banquete, de Platão, surge para abordar o tema do amor, que ela pesquisa há muito tempo, comprando todo livro que encontra sobre o tema.

Em tempos de pornô light no cinema, Pagu resolve escancarar o passado e lê trechos de um “guia” escrito na juventude, com dicas de sexo oral.

E é sobre sexo que ela fala quando declama o único texto que não é de sua autoria na peça, valendo-se de Julio Cortázar em Tua pele mais profunda.

A estratégia de testar o espetáculo de 55 minutos diante de amigos de ofício, há algum tempo, tinha relação com o conteúdo extremamente pessoal do que ela diz em cena – daí a insegurança natural de alguém impossibilitado de olhar objetivamente para si próprio.

As apresentações ocorreram num galpão em sua propriedade em Piraquara – chamado de Sociedade Poética, um local paradisíaco que, dizem, já recebeu até a performer Marina Abramovic em suas passagens secretas por Curitiba. Os amigos foram encorajadores e a lançaram para enfrentar, agora, o público geral do miniauditório do Guaíra.

Certamente haverá quem saia dizendo que viu mais um stand-up – mas, felizmente, com boas referências e nada de preconceito.

“Acho que o stand-up só tem sentido se for sobre a gente mesmo. Não tem graça nenhuma ficar falando mal dos outros”, desabafou a atriz, após ensaio aberto à imprensa.

A estreia é a segunda peça em que Pagu atua após ter um filho, hoje com dois anos. Em 2014, ela estrelou A curiosa história de…, também baseado num texto próprio.

Serviço:
Onde: Miniauditório do Guaíra (Rua Amintas de Barros, s/nº, Centro, Curitiba, tel. 41 3304-7900).
Quando: Sexta a domingo, às 20h. Até 8/3.
Quanto: R$ 30

Ficha técnica:
Dramaturgia e atuação: Pagu Leal
Cenografia: Cleverson Oliveira
Iluminação: Fernando Dourado
Auxílio: Rafael Camargo, Rosana Stavis, Andy Gercker, Marcelo Torrone e Chiris Gomes

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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