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Crítica

Na jaula de Tennessee Williams

22.5.2015  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Marco Novack

Um homem de teatro como Tennessee Williams merecia um espetáculo sobre o próprio teatro, e é essa a toada de Rosa em preto e branco, que tem apresentações até domingo (24) no Teatro José Maria Santos, em Curitiba.

A vida e a obra do dramaturgo norte-americano são abordadas pelo prisma do relacionamento com a irmã esquizofrênica, em quem um procedimento de lobotomia resultou na apatia dela e na culpa que ele carregaria para sempre. Para dar vida a essa proposta, o dramaturgo Rafael Camargo e o diretor Maurício Vogue colocaram em cena quatro atores que parecem enjaulados num processo criativo, lutando com suas exigências físicas e psicológicas.

A caricatura de ensaios de teatro acaba sendo engraçada para pessoas de dentro ou fora do ramo, satirizando a falta de concentração dos atores ou as neuroses que os ajudam a trabalhar, além da relação com um diretor autoritário – responsável por pontos altos do espetáculo.

O cenário realista que simula uma sala de ensaios, aparentemente sem grande apelo, surpreende ao nos envolver nas discussões ao redor de uma mesa, como se fôssemos voyeurs de uma loucura alheia. Mesmo os adereços do palco acabam saindo do esquadro mais para o final.

Algumas das melhores cenas são protagonizadas por Sidy Correa, como quando o relato de um médico sobre seu paciente gera ataques de riso excessivos. Mas há momentos em que a vontade de colocar em cena o momento político soa didático, o que enfraquece o resultado artístico.

Citações de nomes de peças, personagens, acontecimentos do enredo de trabalhos de Williams surgem no texto de forma ora pitoresca, ora forçadas, assim como a repetição de exercícios de corpo.

Luiz Carlos Pazello convence com o bigode e os trejeitos de Williams, e Inés Gutierrez e Laura Haddad também fazem um ótimo trabalho.

.:. Publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo, Caderno G, p. 3, em 21/5/2015.

Serviço:
Onde: Teatro José Maria Santos (Rua 13 de Maio, 655, Curitiba, tel. 41  3324-8208)
Quando: Quinta a domingo, às 20h. Até 24/5
Quanto:. R$ 20

No palco, a vida inventada por Tennessee Williams nos parece assustadoramente mais real, sem nos dar a chance de saber o que realmente é real, espelho ou reflexo

Rafael Camargo

Ficha técnica:
Texto e dramaturgia: Rafael Camargo
Direção: Maurício Vogue
Com: Inés Gutierrez, Laura Haddad, Luiz Carlos Pazello e Sidy Correa
Preparação corporal: Carmen Jorge
Sonoplastia: Gilson Fukushima
Iluminação: Anry Aider de Conto
Cenários e figurinos: Paulo Vinícius
Fotos: Marco Novack
Designer gráfico: Pablito Kucarz
Assessoria de imprensa: Cristiano de Freitas
Coordenação de projeto: Laura Haddad / Duplo Produções
Diretora de produção: Inés Gutierrez
Produção executiva: Juliana Pedrozo e Thierry Lummertz
Idealização: Duplex em sua Cia. Empreendimento: Duplo Produções Culturais Ltda.
Incentivo: Banco do Brasil. Projeto realizado com o apoio do Programa de Apoio e Incentivo à Cultura – Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal de Curitiba

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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