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Reportagem

Luiz Fernando Ramos traduz Gordon Craig

30.6.2015  |  por Helena Carnieri

Foto de capa: Reprodução

A importância que o encenador inglês Gordon Craig teve para a modernização visual do teatro está sendo resgatada pelo pesquisador Luiz Fernando Ramos com a tradução de sua obra, ainda sem data para lançamento. Ramos, que é crítico e professor da Universidade de São Paulo, esteve em Curitiba para abrir a Jornada de Estudos Irlandeses, realizada na Uniandrade, transcorrida sob o tema “Literaturas em contato: temas, tendências e transações” (17 e 18/6).

Pode parecer curioso, mas existe uma vibrante pesquisa sobre a literatura irlandesa no país, concentrada sobretudo na Associação Brasileira de Estudos Irlandeses (Abei), que promove simpósios anuais e divulga interessantes bolsas de estudo. Os pontos de contato com a literatura da América Latina incluem a questão da identidade, os processos de independência e descolonização e o trauma causado pelos períodos de repressão.

Craig interessava-se pela invenção de novos apetrechos cênicos, e suas pesquisas o levaram a desenvolver de forma obcecada cenários modulares e flexíveis

A pesquisa que Ramos trouxe em sua apresentação sobre Craig encontra a Irlanda por meio da breve interação que o artista britânico teve com o poeta e dramaturgo William Butler Yeats (1865-1939), Nobel de Literatura de 1923 e um dos mais célebres irlandeses, ao lado de James Joyce e Oscar Wilde.

O contato entre os dois homens de teatro se deu no início do século 20 durante um curto período, mas com profundo significado para o aprendizado de novas técnicas por parte de Yeats. O fato é que Craig interessava-se pela invenção de novos apetrechos cênicos, e suas pesquisas o levaram a desenvolver de forma obcecada cenários modulares e flexíveis chamados por ele de “mil cenas em uma”. Eram objetos maleáveis capazes de substituir os custosos e antiquados painéis que eram utilizados então como cenário.

O irlandês Gordon Craig em 1962Cecil Beaton

O britânico Gordon Craig em 1962

Com rodinhas e a proposta de que fossem deslocados horizontalmente, os “biombos” propostos por Craig inspiraram revoluções subsequentes em termos visuais no teatro. Apesar de Craig ter patenteado seu invento em quatro línguas, ele foi pouco utilizado, servindo sobretudo como quebra dos paradigmas correntes naquele momento fomentador das vanguardas históricas europeias. Mas Craig chegou a criar um modelo para Yeats usar em seu Abbey Theatre, em Dublin, em 1911, e desenhou o cenário do Hamlet, de 1908, do prestigiado Teatro de Arte de Moscou, de Stanislávski.

O encenador inovou também na iluminação, usando pela primeira vez a barra de luzes no alto da cena. No futuro, bebendo nessa fonte e em tantas outras é que encenadores como Robert Wilson iriam promover inovações visuais no teatro consagradas como o que há de melhor no teatro contemporâneo.

.:. Publicado originalmente no jornal Gazeta do Povo, Caderno G, p. 4, em 20/6/2015.

Jornalista formada pela Universidade Federal do Paraná, instituição onde cursa o mestrado em estudos literários, com uma pesquisa sobre A dama do mar de Robert Wilson. Cobre as artes cênicas para a Gazeta do Povo, de Curitiba, há três anos. No mesmo jornal, já atuou nas editorias de economia e internacional.

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