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Reportagem

Uma cena musical em compasso de espera

11.6.2015  |  por Fábio Prikladnicki

Foto de capa: Guto Costa

O espetáculo Sambra – 100 anos de samba, com Diogo Nogueira, que chega a Porto Alegre nos dias 16 e 17 de junho, confirma a capital como um dos destinos de musicais. Mas ainda são poucos os que chegam por aqui em relação ao pujante cenário em São Paulo e no Rio. O motivo é, principalmente, econômico: os musicais, em geral, têm cenários grandiosos e contam com uma equipe numerosa. Viajam a Porto Alegre, muitas vezes, com reduções nestes quesitos em relação à versão original.

“Cada espetáculo que montamos já é pensado também em um formato de viagem. Se tem uma orquestra de 12 músicos, viajamos com oito. Se o corpo de baile tem 10 dançarinos, teremos seis. Depende de cada espetáculo”, exemplifica a produtora Aniela Jordan, da Aventura Entretenimento, responsável por Sambra e que já trouxe a Porto Alegre Elis, a musical, além de preparar a vinda de Chacrinha, o musical para este ano.

A presença dos espetáculos alimenta com informação a cena local. Mas será que o Rio Grande do Sul conseguirá consolidar uma cena de musical? Aniela acredita que sim. Observa que a busca por patrocínio, uma dificuldade relatada por artistas gaúchos, é uma prática que pode ser aperfeiçoada:

“Isso também é expertise. O produtor precisa saber o que interessa ao patrocinador. Não é só levar o projeto e falar dele. No Rio e em São Paulo também sofremos com a busca por patrocínio.”

Um projeto que pretende dar alento à produção local de musicais, hoje inconstante em número de espetáculos, é a Academia de Teatro Musical de Porto Alegre, idealizada pela atriz e produtora Cíntia Ferrer. Será um curso de formação de dois anos, que deve ser inaugurado em agosto, para instrumentalizar talentos. O plano é montar um musical a cada ano. Há a ideia de trazer profissionais de fora do Estado para ministrar cursos, além da presença dos professores locais. Outra ideia é acrescentar um ano de estudo para a formação de técnicos especializados. O projeto é uma evolução dos workshops sobre o gênero ministrados por Cíntia.

“Temos talentos, mas ainda há muito para ser estudado. Precisamos de mais artistas capacitados para fazer musicais. Temos que aprender a criar nosso próprio nicho, com uma cara gaúcha. Mas as técnicas podem vir da Broadway”, defende Cíntia, que atuou em Godspell e Lupi, o musical – Uma vida em estado de paixão.

Precisamos de mais artistas capacitados para fazer musicais. Temos que aprender a criar nosso próprio nicho, com uma cara gaúcha. Mas as técnicas podem vir da Broadway

O diretor Zé Adão Barbosa, que dirigiu Cíntia em Godspell e também montou O apanhador, ressalta a existência de talentos no Rio Grande do Sul, mas lembra que um dos obstáculos para a cena local é o custo da sonorização, como microfones, além da necessidade de mais técnicos de som especializados:

“Temos apenas dois ou três no Estado que fazem isso. A maior parte opera espetáculo (de teatro ou dança), mas musical é outra história. Também tem que ter operador de som, luz, contrarregra (profissional que controla o funcionamento do espetáculo, incluindo troca de cenários e a entrada de atores em cena). Ao contrário de uma peça, o musical não pode ser feito sem contrarregra.

Para Artur José Pinto, que escreveu e dirigiu Lupi e pretende estrear um novo musical ainda sem título até o início de 2016, a cena local está em uma trajetória de amadurecimento:

“Sem dúvida, é uma caminhada que está começando. Precisamos despertar a necessidade de formação continuada. Tem gente indo embora para São Paulo para fazer musical. Lá, eles têm tradição de franquias de musicais de fora, então o nível de exigência é outro.”

O ritmo mais brasileiro

Depois de sair do gueto e ganhar a avenida, o samba chega agora ao teatro. Dirigido por Gustavo Gasparani e com elenco encabeçado pelo músico Diogo Nogueira, o musical Sambra desembarca em Porto Alegre nos dias 16 e 17 de junho, no Teatro do Sesi. A produção, que fez sambar mais de 20 mil pessoas em sua temporada de estreia no Rio e em São Paulo, acompanha a trajetória do mais brasileiro dos ritmos, de sua origem no subúrbio carioca à consagração popular, passando pela Era do Rádio e a influência da bossa nova. Na trama, anônimos e personagens centrais do gênero, como Cartola, Noel Rosa, Beth Carvalho e Martinho da Vila, apresentam desde os primeiros sambas registrados oficialmente, como Pelo telefone, a números conhecidos até por gente desprovida de qualquer samba no pé, como Vou festejar, Aquarela brasileira e Não deixe o samba morrer – todos executados com banda ao vivo. Os ingressos já estão à venda e custam entre R$ 50 e R$ 180.

.:. Publicado originalmente no jornal Zero Hora, Segundo Caderno, em 5/6/2015.

'Chacrinha, o musical' é coprotagonizado por Stepan Nercessian e Leo BahiaRobert Schwenck

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Jornalista e doutor em Literatura Comparada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É setorista de artes cênicas do jornal Zero Hora, em Porto Alegre (RS). Foi coordenador do curso de extensão em Crítica Cultural da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo (RS). Já participou dos júris do Prêmio Açorianos de Teatro, do Troféu Tibicuera de Teatro Infantil (ambos da prefeitura de Porto Alegre) e do Prêmio Braskem em Cena no festival Porto Alegre Em Cena. Em 2011, foi crítico convidado no Festival Recife de Teatro Nacional.

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