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Crítica

Colhida pulsante no tempo presente, a matéria de que é feita a peça Insones, com dramaturgia de Victor Nóvoa e direção de Kiko Marques, é apresentada ao espectador quase que ainda colada ao cotidiano mais prosaico e, ao mesmo tempo, tornada profundamente estranha. Não há fábula ou narrativa a ser seguida, apenas uma situação compartilhada: a reunião de quatro amigos, dois homens e duas mulheres, no curto período que antecede a passagem de ano. Juntos, eles fracassam fragorosamente a cada tentativa de instaurar a atmosfera de celebração, alegria e troca afetiva pedida pela ocasião. Leia mais

Crítica

Convite à liberdade

19.6.2018  |  por Beth Néspoli

A informação de que o elenco do Cabaret transperipatético, dirigido por Rodolfo García Vázquez, fundador d’Os Satyros, é inteiramente formado por performers não cisgêneros, ou seja, por pessoas cujas mentes e corpos não se enquadram no padrão binário homem/mulher, pode provocar recusa à priori naquela parcela de espectadores ainda arredia às questões de gênero. O espetáculo, porém, tem forte potencial para conquistar o público não afinado com o tema. Leia mais

Crítica

Hamlet é como uma esponja. Ele absorve imediatamente todos os problemas de nosso tempo. Tal afirmação, do polonês Jan Kott, ganha inusitada concretude na criação conjunta do diretor e dramaturgo suíço Boris Nikitin e do perfomer e músico eletrônico alemão Julian Meding intitulada Hamlet e apresentada na MITsp – Mostra Internacional de São Paulo. Nesse trabalho, o campo da luta política é o da normatividade social e sua incidência sobre os corpos. Leia mais

Crítica

Uma pergunta ressoa após a apresentação de Palmira: Seria possível aplicar na arte o princípio homeopático de que a substância que envenena também cura? O espetáculo da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo parte da destruição de monumentos arquitetônicos na cidade síria que dá título à obra. Pode-se moldar uma poética com a mesma matéria brutal que se pretende criticar? Leia mais

Crítica

Numa mesa de bar conversam Peixoto e Edgard: “Você está alto, eu estou alto, hora de rasgar o jogo, de tirar todas as máscaras: você é o que se chama de mau caráter?” São essas as primeiras palavras da peça Bonitinha, mas ordinária, de Nelson Rodrigues. Ao longo do diálogo a pergunta se desdobra: “Você quer subir na vida? É ambicioso? O que você faria para ficar rico?

É possível dizer que as mesmas indagações, em outros termos, detonam a ação da peça A visita da velha senhora, do suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-1990), em cartaz no Teatro do Sesi-SP. Leia mais

Crítica

Toda arte performática se constitui como processo dinâmico entre entretenimento e eficácia. O argumento é de um dos mais reconhecidos teóricos contemporâneos da performance, o norte-americano Richard Schechner. De acordo com ele, essas duas forças impulsionam desde o rito tribal realizado em torno da colheita ou da guerra, passando pela cena engajada ou pela experimentação radical de linguagem até os musicais da Broadway.

Evidentemente o que se considera eficácia muda ao longo dos tempos e das vertentes. No entanto, ainda na visão de Schechner, em qualquer época, a arte teatral floresce quando essas forças estão presentes em igual medida. Pois é possível dizer que se deve ao equilíbrio entre tais polos a fruição prazerosa proporcionada pelo espetáculo Uma peça por outra, de Jean Tardieu (1903-1995), na montagem do Grupo DasDores de Teatro. Leia mais

Crítica

Todo ato de fala é alterado pelas reações de quem escuta. Se a interlocução é desatenta ou inquieta, se os que interagem estão mais empenhados em falar do que em ouvir, a tensão e a urgência afetam o autor do discurso que tende a eliminar da argumentação as sinuosidades da dúvida e a análise multifacetada. O problema do encurtamento da capacidade de atenção das plateias contemporâneas deixa de ser um fantasma a rondar o palco para se tornar matéria de trabalho no espetáculo Hamlet – processo de revelação, solo de Emanuel Aragão, que tem direção do Coletivo Guimarães (DF), formado pelos irmãos Adriano e Fernando, e dramaturgia de cena assinada pelo ator. Leia mais

Crítica

Gestos, odor, movimentos, olhar, respiração, um corpo em tudo diferente daquele que habita o cotidiano urbano. São corpos assim os que vêm para a cena na mais recente criação da Lia Rodrigues Companhia de Danças, Para que o céu não caia, apresentada na 4ª MITsp e que segue em curta temporada no Sesc Belenzinho. Leia mais

Crítica

Criar beleza com matéria de escombros, investir-se das questões de seu tempo no ato criador, reverter destruição em forma vital – eis alguns dos atributos da arte presentes na abertura oficial da 4ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), no Theatro Municipal de São Paulo. Na cerimônia do dia 14 de março, perpassaram as palavras de apresentação da atriz Georgette Fadel e estavam no espetáculo belga Avante, marche! Neste, a morte era o elemento de investigação do lugar do indivíduo no coletivo, enquanto, inversamente, no campo simbólico dos embates da noite, entre as figuras da administração pública e aqueles que as vaiaram, importante era descolar das ações das primeiras, articuladas às relações de poder recentemente instauradas no país, qualquer ideia de inevitabilidade. Leia mais

Crítica

Se já existe razoável entendimento sobre a relevância do processo de criação em todos os campos da arte, e em especial em uma atividade coletiva e presencial como o teatro, no musical A cidade e as mulheres, criado de modo colaborativo pelos aprendizes da Fábrica de Cultura Jaçanã, na zona norte de São Paulo, o valor da construção do pensamento que funda o gesto criativo é perceptível na carne mesma do espetáculo. Leia mais