3.3.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 03 de março de 2005
TEATRO
Estréia amanhã peça sobre jovem de 20 anos que sai da clausura dos pais
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Sacha é uma garota de 20 anos. Rica, mimada e introvertida, ela nasceu por meio de inseminação artificial (qualquer semelhança com a filha de celebridades televisivas é mera coincidência). Os pais lhe dão tudo o que o dinheiro pode, menos o que ela precisa. Sacha foge de casa e “cai na vida”.
“O texto é premonitório”, diz o diretor Paulo Fabiano, 44, em tom de brincadeira, sobre “Fuck You, Baby”, a peça que o paranaense Mário Bortolotto escreveu em 1988. A montagem da cia. Teatro X estréia amanhã, no espaço homônimo da praça Franklin Roosevelt, em São Paulo.
Na viagem de iniciação pelo mundo pós-clausura, Sacha (interpretada por Olívia Leão) atravessa situações que expõem comportamentos e atitudes sociais “deformadas”, segundo Fabiano.
Num templo de pregadores, tromba de uma vez só com Calvino, Charles Manson e uma “devota” de pombajira. Conhece o discurso único de poder do patrão numa fábrica. Cai de pára-quedas no palco de uma boate de striptease. É abusada. Vai parar na cela de uma delegacia. E finalmente reencontra Sacha Pai e Sacha Mãe, que não a reconhecem porque nunca lhe puseram os olhos, de tão ensimesmados que são.
Segundo um DJ-narrador na peça, “Sacha pulou a janela do seu bunker como um Colombo contemporâneo de saias, um Salomão pós-moderno, e o que ela vê já não surpreende mais”.
Influências
“Sacha é uma personagem demasiadamente humana, cuja ingenuidade revela os vícios sociais”, diz Fabiano, que, na encenação, incorpora citações do texto aos universos do cartum e dos filmes B.
Essa “descoberta do mundo” por Sacha encaixa-se no projeto “Olhares Urbanos” da Cia. Teatro X. Antes de “Fuck You, Baby”, o grupo encenou “Caminhador” (2004), de Gerson Steves. Os próximos dramaturgos a serem montados são Celso Cruz, Claudia Vasconcellos e Rubens Rewald.
“O projeto traz à cena espetáculos que, independentemente de gênero ou forma, buscam refletir os efeitos da sociedade de consumo sobre o indivíduo, num ambiente urbano, caótico e violento. Não só a violência das balas mas também a do desprezo, desrespeito e alienação”, diz o diretor da companhia, criada há sete anos.
Na mesma praça Roosevelt, Mário Bortolotto e o grupo Cemitério de Automóveis estão em cartaz com “O que Restou do Sagrado”, nas noites de segunda e terça, no Espaço dos Satyros.