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“Em Galvez"

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“Em Galvez"

Folha de S.Paulo

São Paulo, terça-feira, 14 de abril de 2005

TEATRO 
Versão para o palco do livro de Marcio Souza questiona os valores brasileiros

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

Encenador, pesquisador e professor da área de teatro na Unicamp, Marcio Aurelio anda no encalço da ignorância. Abraçou-a até o osso, com a Cia. Razões Inversas, em “Agreste” (2004), o premiado texto de Newton Moreno sobre um casal de lavradores que planta o desejo e o colhe por um par de décadas até a comunidade reduzir tudo a cinzas.

Agora, em paralelo (“Agreste” segue em cartaz no Aliança Francesa), Aurelio, 55, gira para o final do século 19, na região amazônica, de onde pesca a história do espanhol errante dom Luiz Galvez Rodrigues de Ária, o visionário protagonista de “Galvez, Imperador do Acre”, romance de estréia de Marcio Souza que ganha adaptação de mesmo nome em temporada a partir de amanhã no Centro Cultural São Paulo.

“É um espetáculo que questiona valores políticos, sociais, morais, religiosos, antropológicos etc. Mexe com uma idéia de formação de caráter. O público e o privado são expostos de maneira ácida e crítica, não há limites”, diz.

O livro do amazonense Souza, de 1976, o mesmo autor de “Mad Maria”, narra as peripécias de um aventureiro que aparece em Belém, trabalha num jornal, conchava com o cônsul da Bolívia e acaba revelando os planos de alguns homens de negócios dos EUA que desejavam ocupar um vasto e rico território ainda pouco conhecido, perdido entre as fronteiras de Brasil, Bolívia e Peru.

Com o escândalo, Galvez foge da cidade, embarca em um navio de missionários, comanda um exército de poetas e bêbados, ama mulheres fascinantes e finalmente é coroado Imperador do Acre, um reino tropical e efêmero.

A messiânica trajetória desse sujeito “invulnerável aos golpes do destino” (emboscadas, doenças, flechas e amores eclesiásticos) é interpretada por 17 atores da campineira Cia. Les Commediens Tropicales (de “Terror e Miséria no 3º Reich”, de Bertolt Brecht).

Uma das inspirações de Aurelio para a encenação é o filme “Terra em Transe”, de Glauber Rocha (1938-81). Daí uma certa “bagunça carnavalizada”, intermitente.

A voltagem erótica de algumas cenas logo é substituída pelo desencantamento, a percepção de que não há para quem torcer nessa arena. A disposição dialética dos temas, um roçar de realidade e ficção, ecoa a formação burguesa e política do Brasil que Souza busca retratar.



Galvez, Imperador do Acre
Quando:
 estréia amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h. Até 29/5
Onde: Centro Cultural São Paulo (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3277-3611) 
Quanto: R$ 12