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“Família Gomide puxa Carroça popular"

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“Família Gomide puxa Carroça popular"

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 17 de dezembro de 2005

TEATRO 
Pai, mãe e oito filhos recuperam tradições em “Histórias de Teatro e Circo”, peça em cartaz no Sesc Belenzinho

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

Dos muitos Brasis desconhecidos, um deles certamente é puxado pela companhia Carroça de Mamulengos. Ela é formada por pai, mãe, oito filhos e mais dois artistas, todos fazedores de cultura popular.

Hoje e amanhã à tarde, no Sesc Belenzinho, a Carroça encerra sua primeira longa temporada em “trânsito” por São Paulo, cidade onde fez passagens-relâmpago nos últimos anos.

Quando a Burrinha Fumacinha dá seus galopes curtos no palco, interpretada por Isabel, 7, sob o canto e os acordes do violão de Maria, 21, desenha-se o ciclo dos filhos de Carlos Gomide, 50, e Shirley França, 40, no espetáculo “Histórias de Teatro e Circo”.

A personagem foi criada justamente para incorporar ao espetáculo a então primogênita Maria, em meados dos anos 80. Agora, o rito de passagem cabe às gêmeas Isabel e Luzia, esta brincante-mirim paramentada de Bode Pinote, um cabritinho.

Pedro e Mateus, 10, os também gêmeos predecessores, sentem-se os próprios Carneirinho Belém e Tamanduá Meleta em cena, tímidos e folgazões.

Dali a pouco, surgem os adolescentes Antônio, 18 (o Dragão Xodó), Francisco, 15, e João, 13 (os Jaraguás Rosa e Florinda). Na segunda parte, eles reaparecem em pernas-de-pau, à altura dos palhaços com nariz vermelho que também assumem.

“O “Histórias de Teatro e Circo” é como uma lavoura na qual vamos experimentando novas plantações, aperfeiçoando a cada filho que chega”, diz o bonequeiro e compositor Carlos Gomide, mestre-de-cerimônias e diretor-geral do espetáculo.

Bonecos e reisados
A saga da família tem início em 1977, em Brasília, quando o goiano Gomide junta-se ao artista Humberto Pedrancini. Eles criaram o grupo Carroça e confeccionaram bonecos a partir de sucatas. Montaram a brincadeira (como preferem) “As Bravatas de Professor Tiridá na Usina do Coronel Dijavuna”, com texto de Januário de Oliveira.

O contato com o mamulengueiro Antônio Alves Pequeno, o mestre Antônio do Babau, com quem conviveu por cerca de três anos na cidade paraibana de Mari, descortinou outras possibilidades para Gomide, que conheceu as tradições de reisados, bandas de pífanos, repentistas, emboladores de coco etc.

Consolidou a Cia. Carroça de Mamulengos. Em 1982, conheceu a atriz Shirley França em Brasília. E de lá para cá ganhou corpo a companhia familiar.

Aos poucos, cada filho vai se afinando com o que mais gosta. Para Maria, é a música; Francisco, percussão; Antônio, as artes visuais e manuais.

Apesar de certa mística que emana da peça (Gomide tem cabelos e barba à imagem de Cristo) e da reunião de pais e filhos (além das participações de Beto Lemos e Maria de Miguel), Gomide diz que a Carroça “não tem o mínimo desejo de fortalecer a instituição família, base do Estado, da propriedade”. “Creio que a minha família é maior do que esta que está comigo. Essa visão dos laços consangüíneos acaba separando, cria desarmonia, falta de comunhão na sociedade. Minha família é um punhado de pessoas que sonham o mesmo sonho”, diz Gomide.

Como o movimento cultural (ou “de vida”, como prefere) que a Carroça encabeça em Juazeiro do Norte (CE), por meio da União dos Artistas da Terra da Mãe de Deus. Na semana passada, cerca de 40 desses artistas de origem humilde viajaram até o Rio para dançar, cantar e brincar nos Arcos da Lapa, dentro do 2º Encontro do Padre Cícero com Profeta Gentileza. Um arrastão cultural da Carroça. 



Histórias de Teatro e Circo
Quando: hoje e amanhã, às 16h.
Onde: Sesc Belenzinho – teatro (r. Álvaro Ramos, 915, tel. 0/xx/11/ 6602-3700) 
Quanto: R$ 6