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“Frateschi vive homem ridículo de Dostoiévski"

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“Frateschi vive homem ridículo de Dostoiévski"

Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 03 de agosto de 2005 

TEATRO 
Ator adapta novela fantástica do escritor russo e inaugura novo espaço no centro; solo tem direção de Roberto Lage

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

Século 19. Ele mora num quarto miserável, trabalha numa repartição pública, entre pilhas de processos, e jaz entediado com a vida, consciência do ridículo que sempre foi, e com aqueles que o cercam e endossam.

Faz dois anos, comprou um revólver e se promete o suicídio toda noite que volta para o cortiço. Mas aquela foi diferente, chuvosa e gelada, em que uma pobre menina segurou seu braço e lhe implorou ajuda, devidamente rejeitada, para provar que não sentia piedade humana.

Chegou ao quarto, sentou-se na velha poltrona e pegou no sono. Acordou outro, como rumina o protagonista de “Sonho de Um Homem Ridículo”, novela de Dostoiévski adaptada para o teatro pelo ator Celso Frateschi, 53.

O solo de mesmo nome, com direção de Roberto Lage, estréia amanhã no teatro da Memória, no Instituto Cultural Capobianco, que abre as portas no centro.

Frateschi envereda pela narrativa elíptica do russo Dostoiévski (1821-81), que confronta existência e espaços do nada, da razão e do sonho. É neste que o funcionário público, na adaptação, tira dos ombros o fardo da verdade de se saber ridículo e coloca em xeque a noção de felicidade.

Seu niilismo esbarra na menina-estrela, fração de segundos que não desgruda da memória e o projeta ao fantástico, pois que a vida é sonho, como escreveu o poeta dramático espanhol Calderón de La Barca no século 17.

“Acho que o protagonista nunca foi um suicida. Ele é extremamente autocentrado, o que lhe provoca desânimo geral, mas basta o sonho para desestruturar a idéia do suicídio, que não era tão arraigada assim”, diz Frateschi.

Segundo o ator, 35 anos de palco, a trajetória do seu personagem não culmina em redenção, mas em perseverança. Na dramaturgia, correlacionou excertos de outra novela de Dostoiévski, “Memórias do Subsolo”.

Em sua quarta direção de um espetáculo com Frateschi -parceiros no Ágora – Centro para Desenvolvimento Teatral-, Lage deseja aliar poesia e narrativa à atuação e à encenação.

A cenografia de Sylvia Moreira sugere quatro partes no palco: o vazio, a rua, o quarto e um ícone religioso que recebe imagens criadas por Elisa Gomes. 



Sonho de Um Homem Ridículo
Quando:
 estréia amanhã, às 21h; qui. a sáb., às 21h; dom., às 20h; até 18/9 
Onde: Instituto Cultural Capobianco – teatro da Memória (r. Álvaro de Carvalho 97, centro, tel. 3237-1187) 
Quanto: R$ 30