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“Grupo experimental catarinense expõe olhar acinzentado da vida"

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“Grupo experimental catarinense expõe olhar acinzentado da vida"

Folha de S.Paulo

São Paulo, sábado, 23 de abril de 2005

TEATRO 
Companhia apresenta “Os Camaradas” no Sesc Pompéia

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

O Sesc Pompéia vem abrindo seu galpão a grupos com experimentos mais verticais na área de teatro. Nesta semana, é a vez da cia. Carona de Teatro, de Blumenau (SC), que apresenta hoje e amanhã a bem cuidada montagem de “Os Camaradas” (2001).

A Carona existe há dez anos numa cidade que não abriga temporadas, nem as ditas comerciais. O cenário é ainda mais difícil para quem investe em pesquisas de linguagens cênica e dramatúrgica. Daí que a companhia faz mais apresentações fora de Blumenau.

Em 2002, ganhou projeção no Fringe, a mostra paralela do Festival de Curitiba, com “Os Camaradas”. “Nossa pesquisa se dá principalmente por meio da construção física, do trabalho de ator”, diz o diretor Pépe Sedrez, 35, um dos fundadores do grupo.

Com dramaturgia que eles dividem com o argentino Alfredo Megna, a peça se passa numa Eslováquia imaginária. Durante um rigoroso inverno, um casal que vive na miséria recebe visitas de membros do Partido Eslovaco. O marido está desempregado. A mulher, doente. Quase não se falam. O silêncio só costuma ser quebrado com a chegada dos “camaradas”, que deixam alimentos na mesa da cozinha em troca de visita ao quarto da mulher.

Não à toa, o cinza domina a expressão facial e os figurinos dos atores nessas borradas margens do público e do privado, espaço podre da política. A melancolia das palavras é traduzida ainda pelo som do acordeão. Cena e público estão dispostos de forma intimista numa arena.

A percepção pessimista do humano pontua os últimos trabalhos da Carona. Ontem e anteontem, no mesmo Sesc Pompéia, a companhia mostrou um trabalho em processo do seu novo espetáculo, “A Parte Doente”, do catarinense Gregori Haertel, sobre personagens isolados que acabam se cruzando e, igualmente, não vêem saída.

O curioso é que as esperanças da Carona se revelam sustentadas pelo fazer teatral. É a aventura do risco, transcendendo fronteiras estéticas e geográficas, que dá liga ao seu projeto. Com talento, conquistou uma sede e convites para circular pelo país. 



Os Camaradas
Texto:
 Alfredo Megna e cia. Carona de Teatro
Direção: Pépe Sedrez 
Com: Arno Alcântara Jr., Fábio Luís Hostert, James Beck e Paula Braun 
Onde: Sesc Pompéia – galpão (r. Clélia, 93, Água Branca, tel. 3871-7700) 
Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 18h 
Quanto: R$ 3 a R$ 10