20.12.2004 | por Valmir Santos
São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2004
TEATRO
Pensadores brasileiros e estrangeiros mesclam recortes histórico, político e estético na abordagem das artes cênicas
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Para o filósofo e professor Gerd Bornheim (1929-2002), “Romeu e Julieta” não é uma peça sobre dois apaixonados adolescentes, uma redução recorrente neste e no século passado, “mas sim sobre a briga de duas famílias da aristocracia, os Capuleto e os Montecchio, luta que põe em risco a paz na cidade, e que conduz a uma triste lição: a da perda dos filhos”.
O comentário, que discorre sobre as vias políticas em Shakespeare, consta da palestra de Bornheim na abertura do seminário “O Teatro e a Cidade”, que aconteceu no Centro Cultural São Paulo entre os dias 8 e 31 de outubro de 2001.
A fala do filósofo junta-se ao coro de outros 13 pensadores, brasileiros e estrangeiros, nas 300 páginas do livro “O Teatro e a Cidade, Lições de História do Teatro”, que o Departamento de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura lança hoje na Galeria Olido.
As vozes internacionais são as do italiano Roberto Tessari (que falou sobre o renascimento e a commedia dellarte), do pesquisador polonês Michal Kobialka (teatro medieval), do diretor e dramaturgista alemão Wolfgang Storch (o teatro político da República de Weimar) e do professor americano Michael Denning (teatro e política nos EUA). Ainda entre os representantes de fora do país, integram o livro o dramaturgo inglês Edward Bond (o teatro atual), o dramaturgo, diretor e pesquisador francês Jean-Pierre Sarrazac (realismo e encenação moderna no trabalho de André Antoine) e a pesquisadora russa Elena Vássina -esta radicada no Brasil-, que comenta o teatro russo moderno e seu público.
Para dar o tom da obra, uma assertiva de Tessari: “Hoje, mesmo laico, o teatro é, potencialmente, o espaço onde a cidade poderia fazer sua “kátharsis”, essa ação purificatória de expor o que deve ser separado para melhor compreendê-lo e ajuizar a respeito. Porém, dificilmente o faz. A encenação teatral, apesar de fundamentalmente cívica, incorporou bem mais o sentido estrito do divertimento e adequou-se aos cânones das belas-artes, numa exteriorização que costuma obrigar a separação do ético e do político, no rigor dos termos. O teatro hoje poucas vezes mostra plena consciência de seu poder em nossos dias excessivamente técnicos”.
São pontos de vista que encerram inquietação histórica, reflexão crítica, imaginação estética e questionamento quanto à função social do teatro.
Também deram corpo ao ciclo brasileiros como Rachel Gazzola (sobre o teatro grego), João Roberto Faria (teatros nacionais e sociedades burguesas), Tania Brandão (teatro brasileiro moderno e a representação da sociedade), Iná Camargo Costa (o teatro político entre nós) e Augusto Boal (o teatro popular no Brasil). A organização do livro é de Sérgio de Carvalho, da Companhia do Latão.
Na mesma ocasião, serão lançadas duas brochuras com registros dos programas Formação de Público (700 mil pessoas em 2004) e Teatro Vocacional (acompanhamento de cerca de cem grupos de teatro amador, ou vocacional).
.