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“Marketing ostensivo e crise de subsídio marcam evento"

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Folha de S.Paulo

São Paulo, sexta-feira, 25 de março de 2005

TEATRO 

VALMIR SANTOS
Do Enviado Especial

Antes das sessões no teatro da Reitoria, atores locais sobem ao palco, sob o arco alusivo à montadora que patrocina o evento, e mandam ver um esquete, um “comercial cênico”, não bastassem suportes como o outdoor e o próprio telão que anualmente descarrega seus cinco minutos de marcas sobre a platéia.

Nada de novo para um festival de teatro que já elegeu a caixa de sabão em pó como símbolo de campanha publicitária (2001). A novidade é que, em meio ao bombardeio de brindes entregues à entrada de alguns teatros por moças e rapazes contratados, a discussão sobre formas de políticas públicas para a cultura também encontra brecha neste 14º Festival de Teatro de Curitiba.

Na terça-feira, um debate sobre a Coletiva, projeto autônomo de artistas paranaenses que ocupam o teatro Paiol com oito espetáculos no Fringe, tratou menos de estéticas, como se supunha, e enveredou pela falta de subsídios.

“A questão surgiu porque, apesar da experiência de linguagens e do sofisticado repertório apresentado, os resultados ficaram aquém do esperado justamente por falta de recursos materiais [cenários, figurinos, equipamentos de som e luz etc] e humanos [para um melhor treinamento de ator]”, diz o dramaturgo Aimar Labaki, 44, responsável por mediar o encontro.

Segundo Labaki, os artistas afirmam que a lei de incentivo fiscal de Curitiba “está atrasada quatro anos”. Ou seja, se um grupo for aprovado para captar recursos junto à iniciativa privada (patrocínio abatido de impostos, dinheiro público), o processo se arrasta por causa da burocracia.

De passagem pela Mostra Oficial, a paulistana Cia. Livre trouxe “Arena Conta Danton” e distribuiu cópias do último manifesto do movimento Arte contra a Barbárie. O documento sai em defesa da Lei de Fomento que a Prefeitura de São Paulo suspendeu sob alegação de submetê-la a revisão jurídica.

Patrocínio
Mesmo as produções convidadas pela organização do FTC (alimentação, hospedagem, transporte), e que recebem cachê (aFolha apurou que uma delas ganhou R$ 5.000 por apresentação), dependem de patrocínio.

A carioca “Baque”, por exemplo, traz o selo dos Correios, que garantiu temporada no espaço cultural da estatal no Rio, inclusive com ingressos a R$ 10. “Os cachês são simbólicos. O patrocínio foi fundamental para vir a Curitiba”, diz o ator e produtor Carlos Evelyn, de “Baque”, montagem que envolve 12 pessoas.

Das 187 peças do Fringe, pelo menos cem delas vêm de outros Estados. A maioria viajou com apoio de prefeituras, Câmaras, empresas aéreas ou de ônibus.

“Muitos espetáculos foram cancelados por conta das mudanças de comando nas prefeituras”, diz o diretor-geral do FTC, Victor Aronis, 43, um dos sócios da Calvin Entretenimento.

Sobre a ostensividade dos patrocinadores, Aronis admite problema: “Em geral, as empresas que entram pela primeira vez são muito afoitas. Temos de rever”. O orçamento é de R$ 1,8 milhão.



O jornalista Valmir Santos e a repórter fotográfica Lenise Pinheiro viajam a convite da organização do 14º Festival de Teatro de Curitiba