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“Odin encena uma das cartas de Tabucchi"

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“Odin encena uma das cartas de Tabucchi"

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 09 de junho de 2005

TEATRO 
Dirigido por Eugenio Barba, grupo da Dinamarca adapta texto do escritor italiano e leva peça a Londrina, Curitiba e Brasília

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

Dos 40 anos do grupo Odin Teatret, nascido na Noruega e depois radicado na Dinamarca, a atriz italiana Roberta Carreri testemunhou três décadas de história do conjunto capitaneado pelo conterrâneo Eugenio Barba e reconhecido mundialmente pelo filtro antropológico com o qual vê as artes cênicas, vertente seguida no Brasil principalmente pelo grupo Lume, de Campinas (SP).

O Odin Teatret retorna ao país através da cidade que mais o acolheu nesses anos todos: Londrina, no norte paranaense. A própria Carreri já se apresentou em outras ocasiões no Festival Internacional de Londrina (Filo). Ela volta, agora, com “Salt” (sal), de 2002, atuando ao lado do músico dinamarquês Jan Ferslev.

Sob direção de Barba, a montagem é inspirada em “Cartas ao Vento”, um dos textos do romance “Está Ficando Tarde Demais”, do italiano Antonio Tabucchi, 61.

O mote: uma mulher viaja de uma ilha a outra do Mediterrâneo, em busca de um amado desaparecido.

A turnê de “Salt” passa depois por Brasília e Curitiba. A seguir, trechos da entrevista com Carreri, 53, que estréia hoje no Filo.


O LIVRO  O texto de Tabucchi serviu como ponto de partida. Há o pressuposto de uma grande obra, claro, mas a encenação também diz por si mesma. A música é constante, há imagens criadas pela relação com objetos, com a luz, com o canto. Isso faz com que o espetáculo seja compreendido, independentemente da língua. Na Escandinávia, por exemplo, foi um êxito, e, lá, as pessoas não falam italiano. De qualquer maneira, o público brasileiro vai receber o texto da peça traduzido e um artigo de Tabucchi.

HUMANIDADE O espetáculo não tem uma perspectiva feminista, mas existencial. Fala de um ser humano que busca outro ser humano.

GESTAÇÃO O processo de criação foi longo. Eu e o Jan trabalhamos sobre ele desde 1996. Ele criou músicas por meio de instrumentos que nunca tocou; eu encontrava movimentos para essas músicas, além de objetos que teriam a ver com o tema viagem. Com o tempo, foram superpostos música, texto, objetos, cenas e, lentamente, a luz. Foram cinco anos de uma pesquisa prazerosa, em paralelo a turnês de outros espetáculos do Odin. Depois, Eugenio assistiu ao resultado e concluiu que, a partir dali, poderíamos chegar a um espetáculo. Sugeriu o livro de Tabucchi, recém-lançado. Por cinco meses, Eugenio fez o trabalho de combinação entre os materiais que eu e o Jean havíamos produzido. Muita coisa mudou, mas muita coisa ficou também.

ESMERO  No mais recente espetáculo do Odin, “Sonho de Andersen” [baseado na obra do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, 1805-1875], que estreou em outubro de 2004, Eugenio pediu aos atores que demonstrassem, um ano depois, o resultado de suas pesquisas, improvisações. Cada um tinha que apresentar um solo de uma hora, com música e tudo o que tivesse direito, e ainda elaborar uma direção que envolvesse os demais atores. Ao cabo, Eugenio tinha 13 horas e meia de material. Só a partir daí ele começou a ensaiar.

PRAZER DO PENSAR Uma das filosofias do Odin é perseverar na realização dos seus sonhos, dobrar o espírito do tempo. Isso significa não fazer espetáculos somente por prazer, mas por prazer que estimule o pensar.

EXTRAPALCO O trabalho do Odin não se restringe à sala de espetáculos. Dez anos depois de seu surgimento, a companhia começou a trabalhar em ruas, praças. Não era mais o espectador que buscava o ator, mas o ator que buscava o espectador em seu bairro. Nunca optamos por um entretenimento gratuito, mas sempre por aquele que estimule em níveis político, social. Não somos um teatro de partido, mas um teatro muito político, no sentido da pólis, que interfere na cidade com a sua ética.



Salt, no Festival Internacional de Londrina
Quando:
 de hoje a sáb., às 21h 
Onde: Casa de Cultura (r. Mato Grosso, 537, tel. 0/xx/43/ 3324 9202;www.filo.art.br
Quanto: R$ 10

Mostra em Língua Espanhola, em Curitiba
Quando:
 dias 13 e 14/6, às 21h 
Onde: Guairinha (r. 15 de Novembro, s/ nº, tel. 0/xx/41/3315-0979;
www.pr.gov.br/guaira
Quanto: R$ 6 a R$ 10

Mostra Internacional de Teatro, em Brasília
Quando:
 21 e 22/6, às 21h 
Onde: CCBB Brasília (tel. 0/xx/61/310-7087, 
www.bb.com.br/cultura)
Quanto: R$ 15