São Paulo, sábado, 12 de março de 2005
TEATRO
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Alzira. A solteirona Alzira, na casa dos 40, mora sozinha. É agressiva, insubmissa. Um dia, mal-humorada, descarrega suas broncas para cima de um vendedor machista que lhe bate à porta.
Friziléia. A “amélia” Friziléia, talvez também na casa dos 40, abriu mão de trabalhar para cuidar do filho, da casa. Onze anos depois do casamento, se dá conta da dependência emocional e econômica do homem que saiu em viagem e com o qual costuma “falar” por meio de bilhetes ou de recados na secretária eletrônica.
Essas mulheres antípodas vão à luta e à cena a partir deste final de semana nos espetáculos “Alzira Power”, peça de Antônio Bivar, de 1969, que não era encenada há 34 anos, e “Friziléia, uma Esposa à Beira de um Ataque de Nervos”, texto recente de Camilo Áttila, autor bissexto, casado há 18 anos com a atriz Elizabeth Savala, que interpreta o monólogo.
“Alzira Power”, dirigida por Jairo Mattos, estréia hoje no teatro Cultura Inglesa – Higienópolis. A produção carioca “Friziléia”, por Luiz Arthur Nunes, faz temporada desde ontem no Bibi Ferreira.
“Friziléia suporta a vida de forma espetacular, com humor, autodeboche. É isso que faz com que ela não se afogue. Existe uma saída, sempre, e cabe a cada um encontrá-la”, diz Savala, 50, sobre sua “operária do lar”.
Não está exatamente sozinha no palco. Ela contracena com personagens “virtuais”, projetados em vídeo: o marido (pelo ator Marcelo Escorel) e a sogra, alter ego de Friziléia, na pele da própria atriz.
Em “Alzira Power”, a protagonista interpretada por Cissa Carvalho Pinto (25 anos de ofício, ex-Macunaíma, de Antunes Filho) impõe sabatina feminista ao vendedor de carros (por César Figueiredo), que tenta “desarmá-la” com artifícios da sedução. Alzira se rebela de acordo com o espírito do final dos anos 60, ainda que não militasse em causas feministas, quando muitos sutiãs foram queimados em praça pública.