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“Ricardo Alves Jr."

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Crítica

Há quem diga que toda crítica é uma autobiografia, tamanha a exposição das percepções e referências de quem escreve. E eu devia ter por volta de 8 anos de idade quando meu pai, que é imigrante nigeriano, costumava reunir os filhos para comer na mesa da cozinha sopas tradicionais de seu país, enquanto contava histórias que ele mesmo tinha escutado ou vivido quando criança em África. Ao final da refeição e do conto, percebíamos ter adquirido mais alguns aprendizados para a vida.

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Resenha

No início, há apenas a voz ─ e essa voz é. Em seguida, a voz escolhe um corpo para habitar: o corpo de uma mulher negra. E esse corpo também é. Assim, em Vaga carne, tanto a peça (2018) de Grace Passô quanto o média-metragem (2019) codirigido por ela e por Ricardo Alves Jr., voz e corpo ora se fundem, ora se confundem, se conformam e se confrontam. Toda uma história se narra nas modulações, nos tons, nos ritmos da voz ─ e em seus silêncios. O íntimo e o coletivo permeiam cada gesto, cada movimento do corpo, cada pequena coreografia ─ e suas pausas. Em sua performance, Passô mobiliza também o invisível e o indizível. Assistimos ao encontro entre voz e corpo no agora da encenação, mas as experiências que ambos carregam não se limitam ao tempo linear ou cronológico. Por fim, o desconcerto: o que vai ser do corpo, daquele corpo, quando a voz se desgrudar dele?

Vaga carne é um dos espetáculos citados pela poeta, ensaísta, dramaturga e professora Leda Maria Martins em Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela (Cobogó, 2021), como exemplo das criações artísticas brasileiras que têm reconfigurado a representação do negro em cena. Trata-se de um repertório crescente de poéticas, que, por meio de ousados procedimentos e elaborações estéticas, afirmam as corporeidades negras como episteme, exercitando uma memória cultural que atualiza acervos cognitivos e performáticos de matrizes africanas e afro-brasileiras. Um aporte urgente e fundamental para a cena teatral (e política) brasileira, que em muitos momentos ainda se revela resignada diante de narrativas desgastadas, modos de produção excludentes ou exclusivistas, estruturas colonialistas e racistas etc.

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Crítica

A arte do teatro pensada com a cabeça no cinema é um axioma possível para adentrar o universo de Discurso do coração infartado. A parceria da atriz Silvana Stein com o diretor Ricardo Alves Jr. pipoca textos visuais, sonoros e corporais numa dramaturgia porosa esculpida em cena limpa, de poucos objetos e preponderância do vazio. A paisagem em preto e branco condiz com a alma cinzenta da figura do velho comediante enclausurado entre quatro paredes e ainda assim atravessado pelo mundo de fora que lhe captura os gestos, a fisionomia, a memória, o devaneio. Leia mais