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“Rússia é destaque na Quadrienal de Praga; Brasil não convence júri"

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“Rússia é destaque na Quadrienal de Praga; Brasil não convence júri"

Folha de S.Paulo

São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2007

TEATRO

VALMIR SANTOS
Enviado especial a Praga

Entre 55 países, Brasil e Rússia coincidiram ao escolher dramaturgos de peso como eixo de suas exibições na 11ª Quadrienal de Praga (República Tcheca), que termina domingo. Na confluência da palavra para o desenho de cena, porém, Anton Tchecov se saiu melhor que Nelson Rodrigues, conforme o júri. 

No início da semana, artistas da Rússia conquistaram o troféu mais importante do encontro, pelo tratamento dado ao tema. Triunfaram sobre o uso duvidoso de tecnologias e o pendor institucional de boa parte das representações nacionais. Por 11 dias, estandes que exibem a produção contemporânea em palcos e espaços alternativos ocupam o salão central do Palácio Industrial. 

A PQ (sigla da Quadrienal) nasceu há 40 anos sob influência da Bienal de Artes de SP, que dedicava espaço ao teatro. O encontro se propõe a incentivar a formação e acolher tendências da criação e pesquisa em cenografia, figurinos e arquitetura e tecnologia para teatro. 

O estande brasileiro não decepciona dentro do que se propõe. A estrutura de ferro em espiral, co-criação de Daniela Thomas, permite ao visitante experimentar ascensão e queda ao percorrer imagens em vídeo e fotos de montagens, pontuadas por frases de Nelson Rodrigues. 

O problema talvez seja esse: a palavra rouba a cena. Não por acaso, o curador da exibição brasileira, o ator Antônio Grassi, distribuiu no local 900 livros da edição inglesa do autor publicada pela Funarte em 1998. O órgão do MinC, que Grassi presidia até 2006, investiu cerca de R$ 800 mil. Foi a verba mais robusta em participação brasileira. Desde 1967, nunca tantos profissionais ou estudantes brasileiros foram a Praga (cerca de 30), a maioria às próprias custas, em busca de aperfeiçoamento. 

Na seção de arquitetura e tecnologia, tampouco a mostra com maquetes e desenhos de obras de Niemeyer, “escondida” na ponta do espaço expositivo, convenceu o júri. Aliás, não houve premiação em arquitetura. Ao evocar Tchecov, a Rússia dá sentido orgânico à dramaturgia e ao espaço. Observada nos estandes da PQ, a cenografia até pressupõe certa autonomia, mas incorre em armadilha, posto que só ganha “corpo” quando encontra o ator, a luz, o som etc. 

O atual espírito pantanoso da Rússia é esculpido em maquetes sobre pratos, cadeiras, gaiola; enfim, suportes frágeis diante do peso da existência. Goteiras, piso encharcado e botas de borracha sugerem, quem sabe, o drama de um país em xeque.
 

O jornalista VALMIR SANTOS viajou a convite da Funarte/ MinC.