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Publicações com a tag:

“Sesc Pompeia"

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“Sesc Pompeia"

Crítica

Assim como a companhia Oficina Uzyna Uzona cumpriu um autodeclarado “desmassacre” em Os sertões, entre 2000 e 2007, quando montou cinco peças a partir da obra literária de Euclides da Cunha, pode-se dizer que o Grupo Clariô de Teatro levanta das bordas de Taboão da Serra com a zona sul de São Paulo, a seu modo, o “desmassacre” da Irmandade Caldeirão da Santa Cruz do Deserto, no sul do Ceará, referente a ataques ocorridos entre 1936 e 1937, há 86 anos, quatro décadas depois da Guerra de Canudos, e revisitado no espetáculo Boi Mansinho e a Santa Cruz do Deserto, uma bem urdida síntese de sua cosmovisão comunitária e artística esculpida em 18 anos de trabalho.

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Crítica

Um circo com muitos picadeiros. Essa definição, ouvida de um espectador de Agropeça, criação do Teatro da Vertigem, sintetiza bem as potências e as limitações do espetáculo. A intenção é ambiciosa. Traduzir um país conflagrado partindo de uma das faces da moeda corrente, o poderoso agronegócio e todas as suas circunstâncias: desde as obviamente nefastas – produção extensiva de monoculturas, uso intensivo de produtos tóxicos, desmatamento predatório – até aquelas de que seus representantes muito se orgulham – rodeios espetaculares, música sertaneja hegemônica, apego às tradições.

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Crítica

Quando a arte olha no fundo dos próprios olhos enquanto procedimento criativo ela pode incorrer em risco de abraçar a autoimagem, afogando-se, como no mito de Narciso. Não é incomum o recurso de metalinguagem virar presa dele mesmo nas teias dos aspectos formais. Sentimento diverso do constatado em Banco dos sonhos, espetáculo-lago da Velha Companhia. Seu grau de experimentação carrega lírios e desassossegos por leitos e margens do teatro e da sociedade. Com a proeza de dar centralidade ao público instado a navegar por uma narrativa e reconstituir, consigo, a consciência de uma personagem, uma grande atriz, em aparente desagregação.

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Crítica

Parece ter chegado o tempo em que, finalmente, negras e negros brasileiros engajados em diferentes campos e artes passam a considerar a importância das pautas dos povos originários – ou dos “negros da terra”, como indígenas foram sintomaticamente “apelidados” pelos colonizadores – nas lutas por igualdades raciais e sociais no país. A peça Améfrica: Em três atos, encenação do Coletivo Legítima Defesa sob a direção de Eugênio Lima, é exemplo dessa tendência salutar e dos desafios para o equilíbrio das cosmovisões, simbolismos e narrativas ameríndias e afro-brasileiras na empreitada.

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Artigo

Lenise por Elenize

29.4.2022  |  por Elenize Dezgeniski

O texto a seguir foi apresentado durante a mesa ‘Viva! 30 anos por Lenise Pinheiro’, que aconteceu em 29 de março de 2022, na Alfaiataria Espaço de Artes, extensiva à exposição de mesmo nome dentro da programação do circuito Interlocuções do Festival de Curitiba.

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Quero começar dizendo que é uma honra fazer parte desta mesa em celebração ao trabalho da fotógrafa de palco Lenise Pinheiro, que por sua vez celebra os 30 anos do Festival de Curitiba. Cumprimento os meus colegas Daniel Sorrentino e Maringas Maciel, companheiros do mesmo ofício nesta terra das Araucárias. E também o produtor cultural Celso Curi, mediador do encontro. Bem como agradeço à atriz Giovana Soar e à equipe do Interlocuções pelo convite.

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Crítica

Razão ilhada

25.3.2022  |  por Valmir Santos

Feito pássaros que manobram durante o voo, controlando suas asas, Donizeti Mazonas e Edgar Castro equilibram-se numa área de pouco mais de metro de diâmetro, a metro e meio do tablado. O palquinho suspenso, um monolito circular metálico concebido pelo cenógrafo Eliseu Weide e como que expandido pela iluminação de Wagner Antonio, vira epicentro espaçotemporal do espetáculo Com os bolsos cheios de pão.

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Encontro com Espectadores

Fruto da parceria da Cia. Livre e da Cia. Oito Nova Dança, sediadas em São Paulo, o espetáculo Os um e os outros (2019) abarcou a luta dos povos ameríndios em território brasileiro e suas estratégias para resistir. Trata-se de livre recriação de Os Horário e os Curiácios (1933), uma das peças didáticas de Bertolt Brecht que investiga modos de resistência da chamada “época da contrarrevolução”, instaurada com a ascensão e consolidação da nazismo na Alemanha.

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Crítica

Urgente e ancestral, a causa indígena desponta como eixo em Os um e os outros, parceria da Cia. Livre e da Cia. Oito Nova Dança. É a arte confrontando séculos de arbitrariedade e opressão, lidando com o legado das culturas imemoriais dos habitantes originários do Brasil e demais extensões do continente americano. Os estados de presença de uma mulher, de uma criança e de homens do povo Guarani M’Bya amplificam a experiência do público, como se conformassem um bioma cênico na dignidade manifestada através do olhar e da postura. Mais em tupi do que em português, eles se expressavam através de corpo, voz, canto e instrumentos artesanais. A relação com atores, bailarinos e músicos se dá de maneira a reconhecer diferenças e a delinear saberes da floresta. Uma modulação poética microscópica que toca com magnitude no cerne das ameaças ambientais e ainda tem a ver com a noção de espiritualidade (nela contida a ritualidade).

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Crítica

Nem em Estado de sítio, que estreou onze dias após a eleição do 38º presidente da República do Brasil, em 2018, o diretor Gabriel Villela tinha se permitido tocar a chapa quente da realidade como o faz desbragadamente em Auto da Compadecida.

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Crítica

A equipe de criação de Ossada conhece bem a distância entre nascer e tornar-se mulher, construção sociocultural examinada por Simone de Beauvoir há 90 anos. O espetáculo não cita diretamente O segundo sexo, livro central na obra da filósofa francesa, mas fomenta o pensamento feminista buscando novos modos de enunciar a violência causada pela desigualdade de gênero, tão premente ontem como hoje. A atriz e diretora Ester Laccava e as desenhistas de luz e imagem Mirella Brandi e Aline Santini elaboram outros vocabulários para a cena a partir do cruzamento de sensações e sombras. Leia mais