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“Teatro repercute polêmica com Gil"

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Folha de S.Paulo

São Paulo, quarta-feira, 07 de dezembro de 2005 

TEATRO 

Grupo faz ensaio aberto amanhã de “A Luta – Parte 2”; Zé Celso prepara rito para lembrar irmão assassinado em 1987

Durante encontro em BH, profissionais criticam MinC e artistas

VALMIR SANTOS
Enviado especial a Belo Horizonte

Teatro é, por natureza, conflito. E no Brasil deste final de 2005, o embate se dá fora de cena: artistas apontam o descaso do Ministério da Cultura em relação ao setor.

Em sabatina na Folha, o ator Paulo Autran afirmou que “ninguém da classe teatral sabe o que ele [Gilberto Gil] fez”. Também em entrevista à Folha, seu colega, Marco Nanini, disse que Gil “nunca foi ao teatro, não gosta”. Em resposta, o ministro Gilberto Gil afirmou que não prioriza o “teatro dos consagrados”.

Gerald Thomas, que dirige Nanini em “Um Circo de Rins e Fígados”, também critica o ministro: “Gil está matando a cultura teatral no Brasil por ser um total analfabeto no que diz respeito à infra-estrutura dramática: não sabe distinguir um intérprete de um dramaturgo; não sabe distinguir um autor dramático de ator”.

A peleja também respinga em Belo Horizonte (MG), onde termina hoje a 2ª edição do Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral).

Aqui, a voz é do teatro feito por grupos e companhias. Não por acaso, o evento acontece no Galpão Cine Horto, centro cultural do grupo Galpão, 23 anos.

“Os dois lados foram infelizes. Não é que o MinC não esteja fazendo nada. Não se faz nada no país há décadas, daí a demanda. E Gil também é um músico consagrado, o que também ajuda sua pasta”, diz o diretor Luiz Fernando Lobo, da companhia Ensaio Aberto (RJ).

Para a pesquisadora Iná Camargo Costa, o movimento Arte contra a Barbárie, de São Paulo, “já havia levantado essa lebre”.

“Não fazemos um teatro cuja consagração é a chancela do mercado, mas um teatro que tenha função social.” Nesse sentido, afirma a intelectual, “faltam esclarecimentos” tanto a Gil quanto aos seus críticos.

O Arte contra a Barbárie surgiu em 1999 por iniciativa de grupos paulistanos. Sua principal conquista foi a Lei de Fomento, de 2002 (cerca de R$ 9 milhões por ano repartidos para grupos selecionados por comissão).

Em sua participação anteontem, no Redemoinho, o presidente da Funarte (órgão responsável pelas artes cênicas no MinC), Antônio Grassi, disse que a pasta busca “uma política de Estado que tenha como alvo o cidadão”.

Mas o ministério não abre a torneira. Dois prêmios de fomento à produção, anunciados com pompa por Gil no início de 2005, ainda não vingaram: o Myriam Muniz (para o teatro) e o Klauss Vianna (para a dança). Grassi promete edital para janeiro de 2006: R$ 13 milhões para as duas áreas.

Gil passou o ano reclamando de contingenciamento. O governo cortou 57% do orçamento do MinC, que era de R$ 480 milhões.

Crise da cultura
Durante três dias de Redemoinho, cerca de 70 grupos de 11 Estados debatem assuntos relativos à “permanente crise da cultura e a omissão dos governos federal, estaduais e municipais no apoio e manutenção dos espaços”.

Relator da Lei de Fomento, o diretor Luiz Carlos Moreira (grupo Engenho Teatral, SP) afirma que os artistas, em geral, não têm clareza sobre as políticas públicas. “A classe precisa construir um teatro significativo para a sociedade, agir como sujeito histórico e não ficar na briga medíocre pela sobrevivência”, afirma.



O jornalista 
Valmir Santos viajou a convite do Galpão Cine Horto