28.3.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2005
TEATRO
VALMIR SANTOS
Enviado Especial a Curitiba
A longa jornada dos dez dias do Fringe, mostra paralela do Festival de Teatro de Curitiba, encerrado ontem, reafirma o experimento de linguagem entre os espetáculos destacados pela cobertura da Folha. O tempo é da delicadeza, a considerar o despojamento da cena e a poética do texto.
Os melhores espetáculos foram “Por Elise”, do grupo Espanca!, de Belo Horizonte; “Suíte 1”, da Cia. Brasileira de Teatro; e “Cosmogonia”, do grupo Os Satyros, ambos de Curitiba -o último tem outro núcleo em São Paulo.
Merecem destaque ainda a dramaturgia de “Só as Gordas São Felizes”, de Celso Cruz (SP), e a pesquisa de “Chão de Dentro”, do grupo Cangalho (BA).
Depois de ter apresentado “Licurgo” no festival do ano passado, Cruz -que já participou de intercâmbio no Royal Court Theatre, de Londres- voltou com a tragicomédia “Só as Gordas São Felizes”, que se passa numa cela. Dois “médicos-criminosos” (por Guilherme Freitas e Dill Magno, da Cia. da Obesidade) discutem seus casos, falam sobre amor, anabolizantes e rotweillers.
O Cangalho é formado pelos atores Leonardo França e Maurício Assunção. Surgiu em Salvador há um ano para borrar as fronteiras entre a dança e o teatro. “Chão de Dentro” revisita o universo do boi sem enveredar por regionalismo, ainda que incorpore manifestações como o samba de roda.
Repórter, crítico e repórter fotográfica assistiram a 33 dos 187 espetáculos participantes: quase um sexto do bolo. Como qualquer espectador, é impossível assistir a tudo. A equipe guiou-se pelo histórico do grupo, autoria da peça ou direção, descontadas as montagens que já tinham feito temporada paulistana.
A 14ª edição do FTC seguiu o modelo das anteriores: a mostra oficial (com 12 peças) e o carrossel paralelo do Fringe, evento que acontece desde 1998.
Permanecem queixas quanto à organização: a arquibancada prometida que não veio; a defasagem técnica de alguns teatros; o inchaço ano a ano (foram 45 peças a mais do que em 2004; houve 28 cancelamentos).
O diretor-geral do FTC, Victor Aronis, reconhece a necessidade de ajustes e contrapõe com tendência consolidada neste ano: espaços segmentados, como as “casas provisórias” da USP (Casa Hoffmann), Unicamp (Espaço Cultural Falec) e a Coletiva (teatro Paiol), com peças locais. A divulgação ganhou reforço com o “Diário do Fringe”, publicação gratuita (5.000 exemplares por dia) que trouxe críticas.
Aroni estima que, como em 2004, cerca de 110 mil espectadores acompanharam o evento.