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“Vertigem volta em palco convencional"

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“Vertigem volta em palco convencional"

Folha de S.Paulo

São Paulo, segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

TEATRO

Cia. de Antônio Araújo estréia leitura de peça de Lagarce, concebida fora do processo colaborativo, típico do grupo
 

Aniversário de 15 anos da companhia acontece em novembro, mas já ganha exposição na Galeria Olido na próxima semana
 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

No ano de seu 15º aniversário, em novembro, o grupo paulistano Teatro da Vertigem passará 2007 “arrumando a casa”. Não no plano físico, pois nem sede possui e o material cênico se espraia pela casa dos artistas, mas no plano da auto-estima. 

A abrupta interrupção da temporada de “BR-3” no ano passado, por problemas econômicos, quase acabou com o grupo. A peça ficou apenas dois meses e meio em cartaz em trecho do rio Tietê. “Foi muito traumático”, afirma o diretor Antônio Araújo. 

O reequilíbrio vem na forma de um projeto extraordinário na trajetória do Vertigem, que ocupa um palco convencional e elege um texto que não foi concebido em sistema colaborativo. “História de Amor (Últimos Capítulos)” não é um espetáculo, mas uma leitura encenada, uma “mise en place”, diriam os franceses como o autor, Jean-Luc Lagarce (1957-95). 

O texto trata de um romance-a-três. Suas últimas linhas podem resumir, ou não: “(1990) Um homem escreveu uma peça. Naquele dia, chegaram um outro homem e uma mulher. 

Os três lêem juntos o texto. Talvez representem a peça – são atores- ou apenas a descubram como se descobre o texto de um amigo”, na tradução de Araújo e Alexandra Moreira. 

A temporada que pré-estréia hoje para convidados na Galeria Olido traz o núcleo do grupo, como os atores Luciana Schwinden, Roberto Audio e Sergio Siviero, o desenhista de luz Guilherme Bonfanti e a assistente de direção Eliana Monteiro. 

A seguir, Araújo, 40, fala do projeto, de política cultural, de produção teatral na cidade e do “lugar da crise” em que o Vertigem sempre se encontra para interpretar o mundo à volta.
 

VIRADA O grupo como que zera, vira a página da inadimplência, das dívidas por conta de “BR-3”. Num certo momento, pensei que ele poderia acabar. Foi muito traumático. É até sintomático que tenhamos conseguido segurar, com o apoio decisivo da Petrobras e da Secretaria Municipal da Cultura. E agora estamos saindo do buraco com uma proposta chamada “História de Amor”.
 

LAGARCE Não conhecia suas peças. Fizemos uma leitura dramática de “História de Amor” na Semana Lagarce que aconteceu na USP, em 2006, por meio do Consulado da França. É um texto curioso, pois trabalho em processo colaborativo e ele fala de um encontro amoroso de dois homens e uma mulher, mas que, num segundo plano, é como se fosse um encontro de um dramaturgo, um atriz e um diretor. É um texto metalingüístico, em aberto.
 

LEI DE FOMENTO São Paulo tem hoje uma pulsação teatral por conta da Lei de Fomento. Mas não é ela que vai garantir que o resultado de um espetáculo seja genial, mesmo porque sua ênfase é na pesquisa. Se não se garante essa possibilidade da experimentação e do risco, a gente não tem salto qualitativo. Lembro-me que, quando estive no Royal Court [centro que apoia a dramaturgia em Londres], eles diziam investir muito em 15 anos para aparecer uma Sarah Kane [autora inglesa]. Acho uma postura conservadora ficar pensando apenas no grande salto estético.
 

GIL, ALCKMIN E SERRA Sobre o [ministro Gilberto] Gil [Cultura], tenho a mesma sensação em relação ao governo Lula: eu esperava uma ousadia maior, o que continuo esperando no segundo mandato. Já no Estado, a gestão de [Geraldo] Alckmin na área da cultura foi anódina, morna. O [José] Serra tem muito mais sensibilidade cultural, e eu aposto em avanços.



História de Amor (últimos capítulos) 
Quando: pré-estréia hoje, às 19h30, para convidados; seg., ter. e qua., às 19h30 e às 20h30. Até 21/3 
Onde: Galeria Olido – sala Payssandu (av. São João, 473, SP, tel. 0/xx/11/ 3334-0001, r. 2006) 
Quanto: entrada franca