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Folha de S.Paulo

Noite dos mascarados

20.4.2005  |  por Valmir Santos

São Paulo, quarta-feira, 20 de abril de 2005

TEATRO 
Estréia amanhã em São Paulo a versão brasileira de “O Fantasma da Ópera”, a produção mais cara do país

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Publicações dedicadas ao teatro contemporâneo ganharam novas edições no fim de 2005 e neste começo de ano no Rio, em São Paulo e em Belo Horizonte.
Iniciativa do grupo carioca Teatro do Pequeno Gesto, a revista “Folhetim” nº 22 é dedicada ao projeto “Convite à Politika!”, organizado ao longo do ano passado. Entre os ensaios, está “Teatro e Identidade Coletiva; Teatro e Interculturalidade”, do francês Jean-Jacques Alcandre. Trata da importância dessa arte tanto no processo histórico de formação dos Estados nacionais quanto no interior de grupos sociais que põem à prova sua capacidade de convivência e mestiçagem.
Na seção de entrevista, “Folhetim” destaca o diretor baiano Marcio Meirelles, do Bando de Teatro Olodum e do Teatro Vila Velha, em Salvador.
O grupo paulistano Folias d’Arte circula o sétimo “Caderno do Folias”. Dedica cerca de 75% de suas páginas ao debate “Política Cultural & Cultura Política”, realizado em maio passado no galpão-sede em Santa Cecília.
Participaram do encontro a pesquisadora Iná Camargo Costa (USP), os diretores Luís Carlos Moreira (Engenho Teatral) e Roberto Lage (Ágora) e o ator e palhaço Hugo Possolo (Parlapatões). A mediação do dramaturgo Reinaldo Maia e da atriz Renata Zhaneta, ambos do Folias.
Em meados de dezembro, na seqüência do 2º Redemoinho (Rede Brasileira de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral), o centro cultural Galpão Cine Horto, braço do grupo Galpão em Belo Horizonte, lançou a segunda edição da sua revista de teatro, “Subtexto”.
A publicação reúne textos sobre o processo de criação de três espetáculos: “Antígona”, que o Centro de Pesquisa Teatral (CPT) estreou em maio no Sesc Anchieta; “Um Homem É um Homem”, encenação de Paulo José para o próprio Galpão, que estreou em outubro na capital mineira; e “BR3”, do grupo Teatro da Vertigem, cuja previsão de estréia é em fevereiro.
Essas publicações, somadas a outras como “Sala Preta” (ECA-USP), “Camarim” (Cooperativa Paulista de Teatro”) e “O Sarrafo” (projeto coletivo de 16 grupos de São Paulo) funcionam como plataformas de reflexão e documentação sobre sua época.
Todas vêm à luz com muito custo, daí a periodicidade bamba. Custo não só material, diga-se, mas de esforço de alguns de seus fazedores em fomentar o exercício crítico, a maturação das idéias e a conseqüente conversão para o papel -uma trajetória de fôlego que chama o público para o antes e o depois do que vê em cena.
Folhetim nº 22
Quanto: R$ 10 a R$ 12 (114 págs)
Mais informações: Teatro do Pequeno Gesto (tel. 0/xx/21/2205-0671; www.pequenogesto.com.br)
Caderno do Folias
Quanto: R$ 10 (66 págs)
Mais informações: Galpão do Folias (tel. 0/xx/11/3361-2223; www.galpaodofolias.com)
Subtexto
Quanto: grátis (94 págs; pedidos por e-mail: cinehorto@grupogalpao.com.br)
Mais informações: Galpão Cine Horto (tel. 0/xx/31/3481-5580; www.grupogalpao.com.br)

A máscara do “Fantasma da Ópera” está espalhada por vários pontos da cidade de São Paulo. O público poderá ver a outra face do seu rosto disforme a partir de amanhã, no teatro Abril, quando estréia a versão brasileira do musical em cartaz há 19 anos em Londres e há 16 em Nova York.

Como o fez em produções anteriores, caso de “Les Misérables” e “A Bela e a Fera”, a Companhia Interamericana de Entretenimento (CIE Brasil, subsidiária do grupo mexicano de mesmo nome) valoriza os números de seu novo musical. O mais expressivo deles, descontados os “zilhões” de espectadores, países e línguas mundo afora, além dos indefectíveis figurinos, perucas, chapéus e sapatos, é o custo estimado da produção: R$ 26 milhões. É o maior orçamento de que se tem notícia nos palcos brasileiros.

A julgar pela procura de ingressos nas últimas semanas, está dando resultado a forte campanha de marketing, que consome quase R$ 4 milhões. Já foram vendidos cerca de 25 mil ingressos, o equivalente a mais de duas semanas e meia de casa cheia nas sete sessões de quarta a domingo.

Sim, há o apelo do lustre que “voa” sobre a platéia, uma das maldições do “coisa-ruim”, mas a cena ficou curta por conta da tecnologia. Dura segundos, e pode-se perdê-la numa piscada.

Dos musicais mais freqüentados por turistas na Broadway ou no West End londrino, “O Fantasma da Ópera” traz composições do inglês Andrew Lloyd Webber, 57. É inspirado no romance do francês Gaston Leroux (1868-1927), sobre um gênio da música que se apaixona por uma corista da Ópera de Paris, Christine, e quer colocá-la no lugar da atual prima-dona, Carlotta, melhor voz e salário. Para tanto, leva o desejo às últimas conseqüências. O enredo de invejas e obsessões amorosas é interpretado por 38 atores, cantores e bailarinos e ritmado por uma orquestra de 17 músicos.

Dos protagonistas, exige-se domínio de canto lírico, mais do que na maioria dos musicais, apesar do acento popular. Isso compete mais à prima-dona Carlotta, a diva que é um calo na voz do Fantasma, interpretada pela soprano mineira Edna D’Oliveira. “A principal mudança do teatro musical para a ópera é a dança, a combinação de movimento e fala. Está sendo desafiador crescer como artista”, diz D’Oliveira, 40.

“No teatro musical, não basta apenas conhecer cada coisa, é preciso dominá-las”, diz Sara Sarres, 24, a Cosette de “Les Misérables”. Para a soprano Sarres, Christine é uma menina forte a quem o pai foi cruel quando disse, no leito de morte, que ela encontraria um anjo da música. “Ela acaba atormentada pelo Fantasma.”

Como nos demais países, o papel de Christine é revezado por duas intérpretes. A “alternante” da personagem no Brasil é Kiara Sasso. Christine passa boa parte do tempo em cena, se desdobrando em solos, duetos, trios e sextetos nas 19 canções do espetáculo que dura duas horas e meia. 



O Fantasma da Ópera
Quando:
 estréia amanhã, às 21h; qua. a sex., às 21h; sáb., às 17h e às 21h; dom., às 16h e às 20h 
Onde: teatro Abril (av. Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista, tel. 0/xx/11/ 6846-6060) 
Quanto: R$ 65 a R$ 200
 

 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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