Folha de S.Paulo
8.10.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2005
TEATRO
Profissionais do riso “batem bola” com a platéia de torcedores no espetáculo futebolístico “Jogando no Quintal”
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Neste fim de semana, tem jogo na quadra da escola municipal Desembargador Amorim Lima, no Butantã. De um lado, 12 palhaços e suas variações sem fim. De outro, cerca de 600 “torcedores” passionais. Nos últimos anos, a bola da vez tem sido “Jogando no Quintal”, espetáculo que não é circo, não é teatro, não é pelada -e isso não importa.
O boca a boca se iniciou em 2001. Precipitou uma geografia da “palhaçaria futebol clube” por casas e quadras da zona oeste.
Você talvez já tenha ouvido falar da história dos palhaços César Gouvêa e Márcio Ballas, ambos de 33 anos. Eles decidiram criar, no quintal da casa do primeiro, um espetáculo que unisse duas paixões: palhaço e futebol.
A brincadeira nasceu do desejo de pesquisar novas possibilidades artísticas para essa figura que transita o picadeiro e o palco. Ballas havia recém-chegado da Europa, onde trabalhou com a Palhaços sem Fronteiras, organização não-governamental internacional na Espanha que atua com populações em zonas de conflito e exclusão.
Foi lá que ele tomou conhecimento da experiência de um espetáculo de improviso teatral sob as regras do hóquei, esporte popular entre os europeus.
“Jogando no Quintal” é enredado pelo fictício Clube de Regatas Cotoxó (CRC), com direito a todos os ritos (e risos) futebolísticos conhecidos do brasileiro: dois times (camisa azul versus camisa cor-de-abóbora, por exemplo), hino do clube, placar, bandeiras, juiz, jogadores e, é claro, torcida.
O território do CRC é demarcado desde a chegada à escola: luzinhas coloridas à entrada conduzem a um “estádio” com arquibancada e barracas de bebidas e guloseimas em seu entorno. Afinal, são três horas de duração, com direito a intervalo do primeiro para o segundo tempo.
A idéia é deixar o público à vontade para sugerir sentimentos, situações ou objetos com os quais os dois times são obrigados a improvisar cenas, tudo ao som de uma banda.
O espetáculo mensal (sempre no primeiro final de semana) conquistou popularidade fora do circuito convencional. Não falta talento aos palhaços-atletas da Companhia do Quintal para manter o pique no lugar
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.