Folha de S.Paulo
2.11.2005 | por Valmir Santos
São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2005
TEATRO
Ganha montagem na cidade peça do escritor italiano comparado ao ganhador do Nobel de Literatura Harold Pinter
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Apontada pela crítica italiana como versão siciliana do britânico e agora Nobel de Literatura Harold Pinter, a dramaturgia do italiano Spiro Scimone, 41, chega ao Brasil por meio de “Bar”, espetáculo que abre temporada hoje no teatro da Memória, Instituto Cultural Capobianco.
A peça de 1996 traz diálogo composto de frases curtas, falas de linha única entre o garçom Nino (interpretado por Bruno Kott) e o freguês e amigo Petru (Alvize Camozzi).
O primeiro sonha em arrumar um trabalho no qual possa mostrar sua habilidade na preparação de coquetéis. O segundo se revela um viciado em pôquer.
A reunião daquela noite é para armar um plano contra um terceiro personagem, Jani, principal adversário de Petru no jogo. Jani jamais aparece em cena, mas boa parte do que se conversa lhe diz respeito.
“É um texto em que você precisa de um tempo de contato para começar a encontrar onde estão seus pontos fortes”, diz Cacá Toledo, 28, que assina a direção com Camozzi, responsável ainda pela tradução e montagem (com o cenógrafo William Zarella).
Pausas e ações convivem sem a rubrica e sem intervenção do autor. “Os personagens têm uma interdependência e ao mesmo tempo se desagradam ao extremo; há o jogo de palavras e os equívocos de comunicação”, diz Toledo.
Para recriar a atmosfera de um bar, são usados amplificadores e microfones que reproduzem burburinho e efeitos sonoros de pratos, copos e talheres.
Zarella criou uma cenografia que divide dois ambientes por meio de um compensado de madeira, um teto que ameaça desabar. Na parte de baixo, fica o espaço onde os atores atuam. Em cima, sugere-se um depósito.
Nessa relação de condutor e conduzido, os personagens estão como que trancados no bar, condicionados num espaço pequeno. O mundo exterior constituirá uma ameaça, daí a paradoxal dificuldade em abandonar o território que os oprime.
“As ações ditas “principais” não são assistidas pelo espectador, como as visitas de Jani, da mãe, o jogo, um assassinato etc. “Bar” me deixa uma grande impressão de ser uma peça escrita a partir de improvisações dos atores”, diz Toledo.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.