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Folha de S.Paulo

Festival de Curitiba celebra arte do circo

27.2.2006  |  por Valmir Santos

São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 2006

TEATRO

Montagens dos grupos Pia Fraus, Parlapatões e Estável usam linguagem de picadeiro no evento que começa dia 16/3

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

Dois modos distintos de saudar o circo despontam no primeiro final de semana do Festival de Teatro de Curitiba (FTC), que começa no próximo dia 16.

Em “O Auto do Circo” (2004), a cia. Estável, de SP, narra a saga de uma família circense que migra da Europa para o Brasil em meados do século 19. Recorte que conota a própria história da cultura circense no país.

A linguagem de picadeiro funde-se à de teatro de rua no inédito “Hércules”, dobradinha da cia. Pia Fraus e do grupo Parlapatões que adapta os 12 trabalhos do herói grego na esteira da comédia.

Em ambas as peças da Mostra Oficial, o público acompanhará releituras dessa arte tradicional, aqui deslocada da lona. As apresentações acontecem no teatro Ópera de Arame (“O Auto do Circo”) e na vizinha Pedreira Paulo Leminski (“Hércules”).

A organização do FTC estima 230 peças em 11 dias de evento: 19 espetáculos na Mostra Oficial e o restante no Fringe.

Na criação da cia. Estável, o circo não surge apenas como técnica ou pretexto. O ator Nei Gomes, 28, diz que a pesquisa levou em conta os núcleos familiares nômades que mantêm o saber artístico e a memória por meio da transmissão oral por gerações.

Dono de circo, o velho palhaço Coscorão (papel de Gomes) procura dar sentido às poucas e valiosas lembranças que lhe restam. Da chegada da avó ao Rio de Janeiro com um circo europeu, nos idos de 1830, até os dias de hoje, quando a atividade encolhe.

Quem cuida de Coscorão, carregando-o num carrinho de mão, é o jovem palhaço Ximbeva (interpretado por Jhaíra).

A partir da dupla, a narrativa de Luís Alberto de Abreu, que concebeu “O Auto do Circo” em colaboração com os sete atores e a equipe, passa por tempos em flashback. Coscorão descreve os números acrobáticos de seu circo, os truques de palhaço, as desavenças familiares e os romances dos antepassados.

O texto inclui recursos de melodrama e de mistérios, tão caros ao circo-teatro de antigamente. A direção é de Renata Zhaneta.

“O espetáculo coroa nosso questionamento da função do artista na sociedade”, diz Gomes. “O Auto do Circo” resultou da residência do grupo no teatro Flávio Império, em Cangaíba (zona leste de São Paulo), dentro do Programa de Fomento ao Teatro. Em abril e maio, a peça fará temporada no Centro Cultural São Paulo.

Saltimbancos
Como saltimbancos de rua, os 17 atores de Pia Fraus e Parlapatões querem levar à cena uma bem-humorada alegoria visual e dramatúrgica de Hércules. Interpretado por Raul Barretto, o herói cumpre os sacrifícios a que foi submetido a mando de Hera (Claudinei Brandão). A deusa fica enciumada porque Zeus (Hugo Possolo), seu marido, havia dado um filho a outra.

Para redimensionar o teatro de rua, serão incorporados uma carreta-palco, um carro, quatro motos, uma esfera de ferro de 4,5 metros de diâmetro, entre outros suportes. Tudo circundado por uma arquibancada para 800 pessoas.

“Hércules” também foi selecionado no Programa de Fomento e será visto em São Paulo em abril, no vale do Anhangabaú.

A festa de abertura do FTC acontecerá dia 15/3, no teatro Guaíra, para convidados. Pela primeira vez não haverá peça, mas um concerto da Orquestra Sinfônica do Paraná, regida por Alessandro Sangiorgi, com participação do ator Luis Melo em um trecho cênico.

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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