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Folha de S.Paulo

“Oxigênio” expõe a vaidade dos cientistas

8.4.2006  |  por Valmir Santos

São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

TEATRO 
Peça estréia no Ruth Escobar 

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

“A ciência busca o conhecimento, mas os cientistas o reconhecimento.” O trocadilho do químico francês Antoine Lavoisier (1743-1794) pode ser estendido a todos os mortais, como procura mostrar o espetáculo “Oxigênio”, do Núcleo Arte no Ciência no Palco, que estréia hoje no Ruth Escobar.

“Todo mundo quer ser reconhecido, independentemente da área de atuação”, diz o ator Oswaldo Mendes, 59, um dos integrantes do grupo. Como nas montagens anteriores (“Copenhagen”, “A Dança do Universo” etc.), este nono projeto quer expor a face mais humana dos cientistas, homens e mulheres empenhados na razão.

Em “Oxigênio”, Lavoisier, o inglês Joseph Priestley (1733-1804) e o sueco Carl Scheele (1742-1786) disputam a primazia pela “descoberta do ar vital”. Estamos em 2001, centenário da criação do Prêmio Nobel. Enquanto o fictício comitê sueco discute o veredicto, a peça retrocede ao séc. 18 para dar conta das vidas dos cientistas. Detalhe: os fatos históricos são narrados sob o ponto de vista de suas respectivas mulheres.

Os autores da peça são químicos: o austríaco Carl Djerassi (“pai da pílula anticoncepcional”) e o polonês Roald Hoffmann (Nobel de 1981). A dramaturgia mescla conteúdos reais e imaginários para conferir o tal Nobel retroativo. A vaidade humana vem à tona, quer na alegria dos vencedores, quer na resignação dos perdedores. “Pelo menos os perdedores não poderão protestar”, brinca um dos personagens.

Para o Arte e Ciência no Palco, a parte que cabe ao espectador é o exercício livre da imaginação. “Imagem, porque só assim, como quis Santos Dumont, o ser humano se tornará um dia a medida e o fim de todas as conquistas da ciência e da tecnologia”, como afirma o programa da peça.

Segundo Mendes, a música, a luz e a “atitude física” dos intérpretes transmitem as noções de tempo e espaço do texto traduzido por Juergen Heinrich Maar.



Oxigênio
Quando:
estréia hoje, às 21h; qui. e sáb., às 21h; sex., às 21h30; e dom., às 19h 
Onde: teatro Ruth Escobar (r. dos Ingleses, 209, tel. 3289-2358) 
Quanto: R$ 20 (qui. e sex.) e R$ 30 (sáb. e dom.) 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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