Folha de S.Paulo
20.6.2006 | por Valmir Santos
São Paulo, terça-feira, 20 de junho de 2006
TEATRO
“Corteo” e “Lovesick” são opostos ao formal “Saltimbanco”, que vem ao Brasil
Locadoras recebem trabalho poético sobre enterro de palhaço e documentário sobre espetáculo erótico feito em 2003 pelo grupo
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Às vésperas da primeira temporada brasileira do grupo canadense Cirque du Soleil (São Paulo em agosto, Rio em novembro), o país já tem 15 títulos de DVDs de seus espetáculos, a maioria lançada recentemente.
O último a chegar às lojas, neste mês, é “Corteo”, que estreou em 2005. Sai também um documentário sobre os bastidores do espetáculo erótico “Zumanity” (2003), destinado aos pais, e não aos filhos que verão “Saltimbanco” ao vivo. Esta montagem de 1994, disponível em DVD e já exibida em canal a cabo, não tem o impacto dos últimos trabalhos de Soleil.
O “Saltimbanco” que vem ao Brasil, uma direção correta de Franco Dragone, apoiada nos números circenses que deixam a narrativa em segundo plano, tem em “Corteo” um contraponto que parece ter ficado claro ao grupo: é preciso risco também na concepção, e não apenas na execução. O clown suíço Danielle Finzi Pasca, de quem o Brasil conhece o solo “Ícaro”, apresentado nos anos 90 com o grupo Teatro Íntimo Sunil, assina criação e direção.
O ponto de partida de “Corteo” é o enterro de um palhaço. A morte acessa o espaço da fantasia e da comicidade numa parada de artistas em que o protagonista é conduzido por anjos ou pedala numa bicicleta suspensa no ar. Em meio às performances aéreas, há espaço para a cena de um teatro de tom mais intimista. Seus intérpretes emanam poesia do rigor técnico, paradigma que Pasca estabelece bem nos ensaios, como se vê no material extra.
Em “Lovesick”, o diretor Lewis Cohen acompanha a criação de “Zumanity” (2003), “o outro lado” do Soleil, um espetáculo adulto em formato de cabaré. É conduzido por uma drag queen, mas a transgressão passa ao largo das imagens clichês sobre o sexo em Las Vegas.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.