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Folha de S.Paulo

Atriz polonesa traz vivência inspirada em Grotowski

3.5.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 03 de maio de 2007

TEATRO
Rena Mirecka, que trabalhou no Teatro Laboratório do diretor polonês, participa de encontros em SP com artistas e o público

Presença coincide com lançamento de livro sobre os primeiros dez anos de pesquisa do grupo criado por Jerzy Grotowski

VALMIR SANTOS
Enviado especial a Paraibuna (SP)

A atriz franco-polonesa Rena Mirecka (pronuncia-se “mirésca”) está em São Paulo para praticar “vivências” com artistas e compartilhar suas idéias com o público. Ela foi integrante do Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski por 25 anos, desde a fundação, em 1959, na cidade de Opole, e depois em Wroclaw, na Polônia. 

A presença de Mirecka coincide -ou é sincrônica, como leria Jung- com o lançamento no país do livro “O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski -01959-69”. 

O polonês Jerzy Grotowski (1933-99) é referência no teatro internacional a partir da segunda metade do século 20. Ele introjeta na Europa o conceito de “teatro pobre”, por uma arte despojada e centrada no ator e na relação com o espectador. 

Suas idéias têm receptividade na América do Sul. No Brasil, é muito citado, nem sempre lido e compreendido. Mirecka e o livro diminuem um tanto do vão. 

“Tive a chance de encontrar-me com esse missionário que ele é do teatro contemporâneo no mundo”, diz Mirecka, 72, que participou de peças históricas como “Akropolis” (1962), “O Príncipe Constante” (1965). 

O trabalho dela, como o do Teatro Laboratório, é permeado pelo processo espiritual. 

“Não se pode chamar a qualquer um de artista. Artista é o homem que pode sacrificar a si, a sua vida, em nome do conhecimento com o qual desenvolverá melhor o seu destino”, afirma a atriz. 

Sem dissimular certa mística pessoal, Mirecka fala com musicalidade. O eco quebra o silêncio da natureza que a envolve numa manhã ensolarada. O repórter, ela e a atriz e pesquisadora que a “ciceroneia”, Chuca Toledo, estão sentados diante de um lago e montanhas num sítio em Paraibuna (124 km de São Paulo). Foi ali que aconteceu a primeira vivência, na semana passada. A segunda será de 9 a 13/5, das 17h às 22h, no teatro Célia Helena (informações pelo tel. 0/xx/11/3884-8294, R$ 800). 

Desde 1982, Mirecka aprofunda uma pesquisa sobre o ator-criador. Resgata elementos do teatro ritual elaborado por Grotowski e os cruza com práticas orientais. Busca a “energia sutil” na arte por exercícios do “The Way” (o caminho), parceria com os colegas Ewa Benesz e Mariusz Socha. 

Quando o Teatro Laboratório fechou as portas, em 1984, cada um foi buscar sua história. 

Mesmo antes, conforme Mirecka, Grotowski já dizia: “Não segurem na minha mão como se eu fosse o pai de vocês. Sejam independentes”. E foram.



Encontros abertos com Rena Mirecka
Quando: sáb., dia 5, às 16h 
Onde: Galpão do Folias (r. Ana Cintra, 213, Santa Cecília, tel. 0/xx/11/3361-2223) 
Quando: seg., dia 7, às 17h 
Onde: teatro Célia Helena (av. São Gabriel, 462, Itaim Bibi, tel. 0/xx/11/3884-8294) 
Quanto: grátis (mediante inscrição)
 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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