Folha de S.Paulo
30.6.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, sábado, 30 de junho de 2007
TEATRO
Companhia encena “Se Eu Fosse Eu…”, inspirada no livro “Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres”
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Se a obra de Clarice Lispector (1925-77) manifesta-se ao leitor como extensão da vida, então é desejável que o teatro que a visite também firme esse elo.
“O termo presença cênica não corresponde somente ao palco, mas à vida de quem cria e de quem recebe o espetáculo”, afirma o diretor Antônio Januzelli, 66, o Janô, que assina o espetáculo “Se Eu Fosse Eu…”.
O trabalho da Companhia Simples teve curta temporada em São Paulo, um ano atrás, e volta hoje no Núcleo Experimental de Teatro (N.Ex.T).
Os sentidos da aprendizagem perpassam ator, espectador e escritora. A inspiração para a montagem vem justamente do romance “Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres” (1969).
Trata dos conflitos íntimos da protagonista, Lóri, para alcançar Ulisses e se deixar levar pelo sentimento amoroso.
A iniciativa é do quarteto de atores que passou pelo Laboratório Dramático do Ator, na USP, sob coordenação de Janô. “No início, o Janô supervisionava o trabalho. Na nova temporada, ele assume a direção de vez, traz delicadeza e profundidade através de seu olhar sutil para a prática do ator”, diz a atriz Flavia Melman, 28.
Segundo ela, o espetáculo tenta se esquivar da cortina existencial que às vezes é colocada automaticamente sobre a autora e obscurece os sentidos (de novo) da razão e da emoção. “Depois da primeira temporada, no Tusp, a gente se apresentou para públicos diversos, como adolescentes.
Eles mergulham de outra forma, escolhem outras linhas de aproximação com o espetáculo, como as movimentações energéticas do corpo em cena”, diz Melman. A intérprete compartilha o palco com Daniela Duarte, Luciana Paes de Barros e Otávio Dantas.
A Companhia Simples vem à luz em 2003 e logo elege Clarice como moto-contínuo de pesquisa alimentada por improvisação e expressão corporal. “Se Eu Fosse Eu…”, o primeiro espetáculo, é embrionário do experimento “Porque o Ar em Movimento É Brisa” (2005), apresentado no Sesc Pompéia.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.