Folha de S.Paulo
26.7.2007 | por Valmir Santos
São Paulo, quinta-feira, 26 de julho de 2007
TEATRO
Ator busca na infância inspiração para protagonizar a nova produção da CIE Brasil, que estréia amanhã no Credicard Hall
Ele recuperou brigas e brincadeiras com os irmãos para criar “improvisos” no espetáculo, em que canta e faz coreografias
VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local
Desde o primeiro dia de vida, há 25 anos, Leonardo Miggiorin sabe o quanto é difícil protagonizar uma cena, como fará a partir de amanhã no musical “Peter Pan – Todos Podemos Voar”, no Credicard Hall. Ele veio à luz às 9h de um domingo chuvoso em Barbacena (MG). O pediatra da mãe estava viajando, e outro médico foi chamado. “Minha mãe não havia chegado à sala de parto quando comecei a nascer. O cara fechou as pernas dela, e eu voltei para dentro [ri]. Depois eu nasci “afogado”, roxo, fiquei dez dias em coma.”
O ator atribui ao rito de passagem o fato de ser “mimado” pela família, tanto na infância como na vida adulta. Mas não chega a ser como o garoto do clássico da literatura infantil, do escocês J.M. Barrie (1860-1937), que não queria crescer. “Sou o irmão do meio, o garoto-enxaqueca. Dizem que é o problemático: nem o mais velho, o orgulho da família, nem o mais novo, que é o xodó”, diz.
Muitas brigas e brincadeiras com o primogênito Rafael, hoje engenheiro elétrico, e com Gustavo, aviador, foram recuperadas nos improvisos para compor Peter em seus “vôos” até a Terra do Nunca. “[Desde criança] me chamam de Peter Pan porque sempre fui magrinho e arteiro”, diz. Filho de coronel aposentado da Aeronáutica, começou aos 12 anos no teatro infantil amador.
Nunca mais parou de representar no palco, na TV e no cinema. “O Peter tem muitas cores. Não é só encantador, é malévolo, sarcástico.” Ao lado de 28 atores, Miggiorin alternará as oito apresentações semanais com Fellipe Ferreira. A maior exigência, diz, é cantar e fazer a coreografia junto. “Numa cena, tenho de pular, dar cambalhota, subir num quadro e ainda manter os agudos.” Com direção musical de Miguel Briamonte, direção geral de Ariel del Mastro, que montou “Peter Pan” em Buenos Aires, e orçada em US$ 2 milhões (R$ 3,7 milhões), a produção da CIE Brasil aguarda aprovação para captar recursos por meio de lei de incentivo federal.
Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.