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Folha de S.Paulo

Grupo Piollin rascunha “Gaivota” de Tchecov

15.11.2007  |  por Valmir Santos

São Paulo, quinta-feira, 15 de novembro de 2007

TEATRO 

Marcado pelo sucesso de “Vau da Sarapalha”, coletivo paraibano estréia peça em SP
 

Montagem de conto de Guimarães Rosa marcou a dramaturgia brasileira da década passada; peça continua a ser encenada

VALMIR SANTOS
Da Reportagem Local 

 

O Grupo de Teatro Piollin passou metade dos 30 anos, completados em 2007, ancorado em “Vau da Sarapalha” (1992). A recriação do conto de João Guimarães Rosa, encenada por Luiz Carlos Vasconcelos, marcou a história do coletivo de João Pessoa (PB) – e a cena brasileira da década passada -ao expressar a cultura popular no sumo. Forma e conteúdo regionais e universais, mas sem exotismo. 

Em seu novo espetáculo, “A Gaivota (Alguns Rascunhos)”, o Piollin tenta livrar-se do estigma do sucesso que estanca. Depois de “Sarapalha”, que viaja pelo Brasil e pelo exterior, o grupo não gerou outro espetáculo – seus atores participaram de projetos pontuais. 

“Debatemos sobre esse estigma que nos incomodava. Agora encaramos com mais tranqüilidade. O público não quer se livrar do passado, mas para a gente é uma coisa superada”, diz o ator Nanego Lira, 43. 

“Continuamos a fazer [“Sarapalha’] porque o espetáculo é bom e o público quer ver, e não porque não conseguimos fazer outra coisa.” 

Pela primeira vez, o grupo trabalha com um diretor convidado. O carioca Haroldo Rêgo, 38, também assina a adaptação do clássico do russo Anton Tchecov (1860-1904). Segundo Rêgo, o subtítulo “alguns rascunhos” indica que se trata mais de um processo do que de tentativa de chegar a um resultado. “Nesse sentido, a idéia do esboço complementa a estrutura narrativa que criamos.” 

Sua releitura preserva cerca de 30% do original, circulando em dois triângulos amorosos para corresponder ao elenco formado por quatro atores e uma atriz (além de Nanego, Ana Luisa Camino, Buda Lira, Everaldo Pontes e Paulo Soares). 

“Alguns personagens de Tchecov são artistas falando sobre arte o tempo inteiro. 

Trocamos nossa experiência de criação com as que o autor propõe em seu texto, lidando com a linha tênue que divide ficção e realidade”, diz Rêgo. 

A montagem enfatiza a relação entre os atores e destes com o espectador. Não há propriamente uma representação, diz o diretor, que investe no sentido de presença, no olho no olho com a platéia mantida próxima da cena. Nos ensaios, quando perguntado sobre como montar um clássico com sotaque nordestino, Nanego Lira respondia com outra pergunta: “E clássico tem sotaque sudestino?”



A Gaivota (Alguns Rascunhos) 
Onde: Caixa Cultural – salão térreo (pça. da Sé, 111, tel. 0/xx/11/ 3321-4400) 
Quando: estréia hoje, às 19h; amanhã, às 19h; e sáb. e dom., às 17h. Até 18/11 
Quanto: entrada franca (retirar ingressos com antecedência) 

Jornalista e crítico fundador do site Teatrojornal – Leituras de Cena, que edita desde 2010. Escreveu em publicações como Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Bravo! e O Diário, de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo. Autor de livros ou capítulos afeitos ao campo, além de colaborador em curadorias ou consultorias para mostras, festivais ou enciclopédias. Cursa doutorado em artes cênicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde fez mestrado na mesma área.

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